Andei por todo o dia, debaixo de um sol escaldante. A terra parecia levemente tremular... Diante de tamanha temperatura, eu fechava um pouco os olhos, para protegê-los da claridade.
Eu pensava em descansar, em parar um pouco, refazer minhas forças... Pois, quase nenhuma eu tinha, tamanho era o meu cansaço! Subindo e descendo as ladeiras, daquela cidade, aonde cheguei cedo pela manhã, para tentar vender os meus produtos... Vida de vendedor, ufa!
Água... Eu quero água! Oh! Sede cruel... E, ainda tenho que pagar por cada gole... Cada gota d’água... Ninguém mais tem água fresca de graça para o sedento!
Como se não bastasse, ainda vem o Lula de lá, querer cobrar imposto sobre a água mineral... O que vai ser de nós? – Perguntei ao senhor Manoel, a quem eu estava tentando vender o meu produto...
– O senhor Manoel respondeu: – o pobre vai ter que urinar na garrafa e reciclar...
– Ando a pé para defender o leite das crianças. Ah! Que salário suado!
Vivo uma vida de completa abstinência:
Tenho uma mulher, que está sempre cansada... Mal humorada... Irritada, mão fechada e sei lá mais o quê!...
O caso é que, além de eu precisar de sombra, água fresca e matar minha fome... Preciso também de carinho, ora!
Quero água tenho que pagar; almoço tenho que pagar; amor... A mulher não dá!...
Nestas idas e vindas, há sempre uma criatura faceira, que se intromete no meu caminho... Procuro desviar-me, quero ser sério!...
– É difícil não é seu Antônio? É bem assim, do jeitinho que o senhor diz!
– Ah! Se não bastasse... Sempre que eu chego a casa, procurando carinho... Ela diz: Tô de jejum! Eu não entendo destas coisas de religião, não! Mais sabe senhor Manoel? Das coisas naturais, um pouco eu entendo.
Da próxima vez, que ela vier com esta conversa, vou eu lhe perguntar: “Acaso, o jejum, não é deixar de comer pela boca mulher?”
Mulher, mulher... Quem não dá assistência abre concorrência!
Vigia!...
Esther.
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