O Manuel, reformado da CP tinha uma casinha com lareira, jardim à frente e quintal nas traseiras.
O Inverno aproximava-se, o frio viria de certeza bem antes do Natal.
Foi previdente: comprou uns toros de sobreiro para acender a lareira,mas o reumático não permitia que ele preparasse a lenha…
Quando tentava levantar o machado…lá vinham as dores do costume…
Mas ele tinha um vizinho amigo, aposentado da PSP, com quem todas as noites jogava damas, xadrez, dominó…e quando as respectivas esposas se despachavam das cozinhas…já havia quatro parceiros para a sueca.
Eram uns grandes amantes do desporto televisivo que praticavam no sofá: não perdiam os jogos dos maiores, discutiam os lances, os resultados e as decisões dos árbitros.
Ora o vizinho do Manuel, que sofria tanto do reumático, ou mais que ele ainda, ao tomar conhecimento do problema dos toros de madeira por rachar, ofereceu-se para resolver tudo até ao Natal e até apostou que a tarefa seria cumprida.
… … …
Na esquadra da polícia, o telefone toca:
-Estou! - Atende um agente - Em que posso ajudá-lo?
-Quero fazer uma denúncia: O meu vizinho esconde droga nos toros da lenha que tem no quintal…
O agente anotou a morada e na hora seguinte a casa do Manuel estava cercada, os cães farejavam por todo o lado, ninguém entrava nem saia e uma brigada especial rachou os toros todos á procura de droga.
Como não acharam nada retiraram-se furiosos, jurando castigar o falso denunciante se o identificassem.
Desmontado o aparato policial. Toca o telefone do Manuel. Era o vizinho.
-Então que se passa por aí?
-Sei lá! - Responde o Manuel – Vieram, mexeram, farejaram e depois foram-se embora…
-Mas racharam-te a lenha toda….Foi a minha prenda de Natal !!!
José Mota