Como posso ser egoísta,
havendo gente a sofrer?
Como posso pensar em mim,
Com crianças a morrer?
Que direito me assiste,
que pena me resiste,
se tantos há sem ter o que comer?
Como posso sentir eu a dor
de não ter,
ou uma sua ausência sequer,
se neste mundo onde seria amor,
vejo homem batendo em mulher,
bebés maltratados,
animais sendo espancados,
mentira a regurgitar
e espelhos de vaidade,
onde só vale a verdade
do que sabe disfarçar?
O que me condói?
A quem me julgo importância?
Não sou nem este,
sou só esta distância
que me peca por omissão,
do que não faço,
do que não traço,
fora eu comum cidadão.
Que vês tu lá fora?
Que fazes tu por alguém?
Penas-te por te expiar,
sofres por ninguém,
e inda tentas ousar
o que não é nem
verdade,
o que acabas-te de falar.
Jorge Humberto
(Abril/2003)