CRASH 1
daí à obra da casa um pouco de mim
a reviravolta do coração dos quartos
tudo começa na cama cega dos animais
distintos,
daí um beijo de sol a cada parede em cinzas
onde gelam as pilhas de livros e se escreve
o amor que vai chegar no verão
daí em mim um descuido não saberei mais
nada antes do estio apenas os moveis afastados
da solidão azul e branca
daí-me amanhã a crise dos que sabem e dos
que choram, as cadeiras de Maciel no ar em
carrocel ,os líquidos das velas entre janelas
daí a nova prece a proximidade do eixo do mar
como o frio de Dezembro na Estremadura
S. Martinho do Porto e o sol verde nas ondas.
daí-me o salto de uma exposição para a casa
serei apenas o burro o animal inteligente que
vive comigo, bravo nos seus passos redondos
e obedientes com a sombra e a luz
daí-me a lua dos teus braços negros e brilhantes.
Chegamos á estação de Leiria, o peso das malas
Novamente, livros e livros , só nos resta a praia
daí-me a saudade da areia – os olhos ficaram brancos
o olhar ainda no branco movimento da espuma dos dias
traz ovos, colheres, ficou tudo branco á minha volta
crash só o nevoeiro é negro nas ciladas
como voltar atrás.
daí-me o conhecimento, o mapa apenas vos dá
caminhos abstractos, canta comigo junto á lareira
o trem chegou a fronteira sensível do manual escolar
daí-me um lírio branco para passar nos olhos
longe vou dormir e voar sobre o mar aflito
José Gil