Tempos difíceis correm no sangue
A reverência e a partilha tornam-se escassos
O egoísmo e o egocentrismo crescem
Uma defesa dos ataques inexistentes do mundo
Que rodeia a falta de paz interior
Será que não se pode amar sem negociar
Estar sem pedir algo em troca
Viver sem pensar no amanha
Aproveitar os momentos de verdade
Permite-se que os esforços profundos
Substituam a superioridade interior
Por algo que aparentemente nos completa
Mas que afasta da realidade, aos poucos
Que com o tempo acaba por perecer
Deixando feridas e cicatrizes profundas
Actos ao sabor de uma sociedade
Podre e comida por si própria
Que não deixa em aberto formas de ser
De aprender a ser de viver o que se é
Onde coexistem como meras fotocopias
De tiragem brutalmente industrial
Levando à busca de beleza exterior
Não deixando tempo para o interior
Cedemos a tudo quanto nos dão
Como se os sentimentos fossem mecânicos
Alimentados pela força de uma roldana
Presa a um coração revestido de aço
Com uma película tão fina
Que ao mais simples sopro parte
Obrigando a uma fuga descontrolada
Um refúgio até repor a fina membrana
O Incondicional é platónico, idealista
O Amor vem de profundezas superficiais
Não tem como evoluir e crescer na sua essência
Preso a raízes e educações exteriores profundas
Atado a passados interditos mas sempre presentes
Comidos por dores incessantes e ignoradas
Sempre na esperança que se esfumem
Sem deixar rastos, nem cicatrizes, nem nada
Porque não nos libertarmos
De quem nos quiseram fazer
Descobrindo quem realmente somos
Mas nunca deixando de ser quem queremos?
Blackbirds like small priests walked in the silent fields.
[ wilderaven @ lusopoemas ]