Era Natal. E eu não entendia bem o porquê, de tantas crianças estar bem vestidas, cheirosas e acompanhadas dos pais, a brincar alegremente nas praças e nos parques. Enquanto que eu tinha que vender balas. Descalço e com as minhas roupas surradas...
Algumas crianças corriam alegremente em suas bicicletas, outras brincavam com uns carrinhos, que tinha um motor e uns botões que eles apertavam, e os carros andavam, sem cordões... Que bonito!
Como eu queria brincar... Estavam tão felizes! Conversavam entre si e diziam mostrando os seus brinquedos, a sorrir: Foi o Papai Noel que me deu!
Segurando o meu tabuleiro de confeitos, eu ficava a olhar pensando...
- Papai Noel... Será que ele dá presentes aos pobres?
Comecei a conversar com uma das crianças, eu queria saber sobre papai Noel. Quando a mãe do garoto o viu, conversando comigo, gritou: Vem Marcos! E correndo o pegou pelo braço, levando-o para distante de mim... Ah! eu queria perguntar tantas coisas a Marcos...
Ouvi falar de um homem bom, barrigudo e amigo das crianças... Um velhinho, que satisfazia os desejos de cada uma delas. Que as fazia felizes. E pensei: No próximo Natal, eu vou fazer um pedido a ele.
Grande foi a minha alegria, a minha esperança... Perguntei ali e acolá... Como fazer? Como ele vai saber o que eu quero? Como ele vai saber onde moro?
- Escreve! Pede a ele...
- Dizia Paulinho, o meu vizinho...
O meu vizinho Paulinho, mesmo pobre, pediu um brinquedo e Papai Noel atendeu... A mãe dele, era doméstica de uma doutora, que morava num bairro nobre da cidade...
- Ah! Como demorou em chegar o próximo Natal. Enfim, chegou!
Fiz uma carta, pedindo-lhe uma bicicleta... Quero nova, como as das crianças da praça. Um carrinho para os meus irmãos e uma boneca para a minha irmã. Se ele dá tudo novinho para as crianças da praça... vai nos dar também!
Paulinho o meu vizinho, disse que pediu um carro de bombeiro... E que colocou o pedido dentro do seu sapato...
- Paulinho... eu não tenho sapatos, posso colocar dentro das minhas havaianas?
Respondeu Paulinho: - Acho que sim!
Coloquei. E quase que não dormi. Não pelo desconforto, pois eu dormia apertado entre os meus cinco irmãos, em um colchão velho, no chão de barro batido. Mas, pela ansiedade... Eu queria ver a alegria dos meus irmãos e também, poder andar de bicicleta. Eu tinha só sete anos de idade, mas trabalhava para que eles pudessem comer. Eu me sentia responsável.
Pela manhã... Nada! Nenhum presente. Nem bicicleta, nem carrinhos, nem a boneca... Que decepção! Chorei e chorei muito!
Minha mãe a tudo assistiu chorando comigo... Ela era diarista, e no dia seguinte, lá vem ela... de uma casa onde trabalhou, com uns pacotes, tão diferentes daqueles que se faz nas lojas... Uma boneca velha e careca, para a minha irmã e uns carrinhos com as rodas quebradas para nós, os meninos...
Entendi, que papai Noel não é o mesmo para todas as crianças.
Ele dá brinquedos ricos para as crianças ricas e pobres para as crianças pobres... e, muitas vezes, não dá nada!
A visão certa, o verdadeiro entendimento, veio depois... muito depois. Quando eu cresci e descobri, que, "Papai Noel" é só fantasia... Deus é real!
Esther.