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Noite de Natal

Manhã fria , como frio é tudo o que a rodeia, sente-se a pessoa mais só deste mundo, a filha ainda dorme, sempre gostara da quadra Natalícia, mas hoje ao acordar sente-se vazia, e com uma raiva cortante por já ser vinte e quatro de Dezembro, véspera de Natal, tempo de paz, um dia de família, coisa que ela quase não tem , ou se tem,nem sabe que existe, perderam-se pelas encruzilhadas do mundo, a vida dá tantas voltas, tempos houve em que fazia tudo para os filhos terem um dia especial, o dinheiro podia ser escasso mas no Natal os filhos eram pequenos príncipes , nada lhes faltava, e agora já adultos seguiram a sua vida, são muito ocupados, com tantos afazeres esqueceram que nasceram de alguém que alguém sofreu para os parir e que também sofreu para os criar, e que agora sofre para criar a irmã, menina cada vez mais triste e que não pode ser princesa pelo menos na noite de Natal.
Abre a porta do frigorifico, olha lá para dentro como quem olha para um abismo, está quase vazio, um pacote de manteiga quase gasto, três ovos e um pacote de leite, no congelador qual oásis no deserto resta metade de um frango, é esta a ementa para a véspera de Natal.
Tempos difíceis, trabalhadora independente, com tudo o que significa ser trabalhador independente, são os primeiros a sentir o efeito da crise, os clientes escasseiam, e os que restam metade pagam qualquer dia ou talvez nunca paguem, volta a olhar a filha que dorme, qual mulherzinha criança que se apercebe de tudo o que se passa à sua volta, sabe que este Natal não vai ser igual aos outros, ainda por cima está doente, e o pouco dinheiro que vai entrando é gasto em médicos e medicamentos, há-de encontrar uma solução, sempre encontra.
Vinte horas, abeira-se da janela olha a rua deserta, só se vêm as reste-as de luz que saem pelas frinchas das janelas, nem vivalma, deserto e frio, aqui e além houve o ruído de festa a festa da família e do calor humano, que terá feito em outra vida qualquer para que Deus se tivesse esquecido dela, volta para a cozinha e serve em silêncio a canja que fez para o jantar, a menina olha para ela com os olhinhos rasos de água, mãe porque os meus irmãos não estão aqui com a gente pergunta, estão ocupados filha, estão ocupados a ser felizes, jantaram sem mais trocar palavra.

Muito se tem escrito nestas ultimas semanas sobre o Natal, é assim todos os anos, este é só mais um texto de Natal de um Natal qualquer de uma família qualquer, Amanhã dia 24 de Dezembro sorria quem sabe o seu sorriso vai ser a prenda que essa família tanto anseia receber.


Um santo Natal a todos os luso- poetas

Antónia Ruivo


Era tão fácil a poesia evoluir, era deixa-la solta pelas valetas onde os cantoneiros a pudessem podar, sachar, dilacerar, sem que o poeta ficasse susceptibilizado.

Duas caras da mesma moeda:

Poetamaldito e seu apêndice ´´Zulmira´´
Julia_Soares u...

 
Autor
Antónia Ruivo
 
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