Apanhar-te aos pedaços do chão, retocar-te a maquilhagem, dar-te um uísque para a mão, acatar os teus lamentos.
Pôr-te de pé, abraçar-te depois uma noite com o teu amor, aquele amor que estás disposta a dar a todos, dizer-te adeus, fechar a porta de casa e voltar para a cama, solidão.
Sei que volto a ver-te em dois dias à mesma hora com a mesma vontade de te amar de sempre.
Sei que voltas, voltas sempre, sempre com os mesmos lamentos, sempre de rastos, sempre à espera que te recomponha.
Volto exausto depois do trabalho e lá estás tu, mais aflita que o habitual.
Perguntar-te o que se passou por entre um abraço, e a resposta seca de que já não aguentas mais, de que precisas de perder tudo para voltar a Amar.
Também eu perdi tudo, também eu disse que não aguentava mais, também te abracei.
Fazer-te o jantar, servir-te um copo de vinho velho que bebes de um só trago, encher o copo, dizes que te perdes, que não sabes o que me dizer.
O ouvir-te, o lamento de ouvir-te, por momentos queria que te calasses e que o teu olhar parasse por segundos no meu, não o fazes porque sabes que te perderás de novo.
A minha mãe morreu, deixo-te cair a bomba, calas-te e não me dizes mais nada até ao fim do jantar.
Ir para a cama, deitar-me no frio da cama contigo, tocares-me, esfregares-te em mim, arrepiares-me.
Acordo e já foste, sei que não voltas, mas isso não importa, mais nada importa, eu também não voltarei.
A casa fica vazia e a cheirar a musgo, o tempo derruba as paredes, o tecto, o chão. O tempo é a mais bela máquina de destruir, e de amar.