Quisera
Quisera fechar os olhos e não ver...
Ficar cego diante de todos...
Quisera tapar os ouvidos e não escutar...
Não ouvir falar de mais nada.
Quisera não sentir o corpo estremecer...
O tremor da revolta da indignação...
Quisera ao mundo não assistir morrer!
De penúria e inanição...
Homens que destroem a vida por ambição!
Ventos desastrosos desarvoraram
Homens que não enxergam além do poder!
Frágeis ideais se dispersaram,
Homens que seguem sem conhecer a razão...
Apócrifos pregadores da utopia
Homens que fazem da dor o seu real prazer!
Quando a miséria não os atinge no dia a dia!
Sórdidos e hediondos são os crimes que praticam...
Vis celerados, cínicos e mercenários,
Igualmente odiosa é a nossa ignóbil omissão...
Somos fracos, indulgentes, otários.
Lançamos cotidianamente sementes de intolerância...
Mas de revoltas solitárias não surge a revolução
Quer nos apercebamos dessa realidade ou não!...
Somos cúmplices desta sociedade submissa!
Restam estatísticas frias, gélidas, macabras...
Que serão omitidas pelas lendas de estórias,
Que ao inevitável esquecimento amanhã recairão...
Neste prostrado e impune rincão...
As lágrimas sorrateiramente serão enxugadas...
As angústias no recôndito de tênues memórias,
Prosseguiremos à espera de Justiça: quiçá ao outro...
Quiçá à nós mesmos
...estendendo a mão!
por migalhas de pão!
Dueto: Maurélio Machado e Má Herculano