Tirano! Desmancha prazeres.
Tu, que tudo queres, roubas
A alma, transtornas a personalidade.
Tirano! Bárbaro e despudorado,
Não tremes ao descontentamento,
Aprisionas os justos e submissos.
Sacodes e vergas corpos ao teu peso,
Os nossos e de todos, por todo o lado,
serventes, sobreviventes de hoje e agora.
Sacodes e vergas à tua passagem,
Submetes canas ao teu vento,
Constróis a sua força, a tenacidade.
Ensinados por ti e pela ambição:
Obrigas-nos à luta e a dar as mãos;
Harmonia dos diversos, a guerra dos iguais.
Ensinados por ti e pela condição:
A paciência, laminada ao infinito,
A crueldade, máxima incongruência.
Quem te deu este direito omnipresente?
De ensinar o sacrifício de aprender,
De realizar, construir e tudo arrasar!
Gravado na sucessão de almas sem fim,
Infelizes no inevitável descontentamento,
Infelizes no revés, no fracasso iminente.
Caminhamos para ti, na oblação da manhã,
Por fim, envias-nos turvos para o descanso,
Lambendo as feridas do teu chicote impiedoso.
Por uma sopa, retesa-se um músculo no trabalho,
Por um bife, arquitecta-se um novo Homem.
Conquiste-se a liberdade! Construa-se a prisão!
Boa semana!
Garrido Carvalho
Dezembro '08