Luso-Poemas
 
Poemas -> Saudade : 

O armazém do meu tio

 
Tags:  BEBIDAS    gato.    armazém  
 
O meu tio tinha um armazém
Que vendia um pouco de tudo
Tinha pinicos, panelas e baldes
Dependurados no alto do forro
Tinha arroz, feijão e farinha
Bacalhau, carne seca e batatinha
Tinha cerveja na geladeira
Que funcionava a querosene
Tinha bebidas na prateleira
Nacionais e também extrangeiras
Um gato com muita soneira
Que dormia durante todo o dia
Deitado encima da sacaria
Tinha até pão lá da padaria
E mortadela para sanduíche
Tinha uma vitrina com doces
Tinha machado e tinha foices
E também enxada e enxadão
Havia rodo e rastelo de café
Tinha até sacaria Coronel
Tinha lamparina e lampião
E sardinha salgada em lata
Havia biscoito e bolacha
Chá mate e pés de agrião
Queijo e também requeijão
Tinha prego e arame farpado
E grampos para cercar o gado
E também pinga daquela boa
Tinha areio para cavalo
Bombinhas pra dar estalos
Tinha faca e também canivete
Mas um dia veja como é a sorte
O meu tio vendia só fiado
Deu ferrugem no cafezal
E os cafeicultores se deram mal
Não pagaram o seu armazém
E meu tio nada mais tem
Pois perdeu tudo o que tinha
Vendeu até sua fazendinha
Para pagar seus credores
Hoje lembra o tempo passado
E fica triste o pobre coitado
Por viver agora aposentado
Sem receber dos seus devedores

jmd/Maringá, 14.12.08



verde

 
Autor
João Marino Delize
Autor
Textos deste autorMais textos
Rss do autorRss do autor
EstatísticasEstatísticas
 
Texto
Data
Leituras
2704
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
Enviar este texto a um amigoEnviar
Imprimir este textoImprimir
Salvar este texto como PDFCriar um pdf
3 pontos
3
0
0
Recentes
Sorte
Gentileza
Anoitecer
Quem eu quero não me quer
Nosso tempo
Aleatórios
Meu mílésimo soneto
O poder dos banqueiros
Serra da Mantiqueira
Desamparo
Um novo amigo
Favoritos
Traduções
CICATRIZES
UTÓPICO
Constância
Taciturno
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 14/12/2008 17:35  Atualizado: 14/12/2008 17:35
 Re: O armazém do meu tio
João,
Meu falecido avô materno, morava no interior do Pará e tinha um armazém igual a esse.Teus poemas são cheios de brasilidade.Tive saudades de eu menina, de férias, metida a "vendedora" no armazém.
Bjins, Betha.

Enviado por Tópico
gil de olive
Publicado: 14/12/2008 18:06  Atualizado: 14/12/2008 18:06
Colaborador
Usuário desde: 03/11/2007
Localidade: Campos do Jordão SP BR
Mensagens: 4838
 Re: O armazém do meu tio
Pena que não existe mais esse armazém,por que lá poderia encontrar algum livro que me ensinasse a escrever coisas bonitas como voce escreve!Parabens!

Enviado por Tópico
Hisalena
Publicado: 14/12/2008 18:13  Atualizado: 14/12/2008 18:14
Membro de honra
Usuário desde: 30/09/2007
Localidade: Leiria
Mensagens: 734
 Re: O armazém do meu tio
Um poema simples que nos faz sentir saudade do tempo em que a vida corria bem mais tranquila e quieta, do tempo em que se deixava a chave na porta, do tempo em que as portas ficavam abertas, do tempo em que num só local encontrávamos tudo o que precisávamos. Uma viagem ao passado que nos faz lemvrar o tempo em que um mundo era um "quintal" e não uma galáxia como hoje.

Links patrocinados

Páginas em

Páginas sobre