Eu voltava de Ti com outro pensar.
Porém amava então as estrelas,
a natureza pura e suas tardes.
Hoje amo o homem humilde e seu trabalho,
suas manhãs manchadas com horários,
sua fronte em que a dor é quase lágrima.
Ao velho carpinteiro que recorre
a medida constante de seu féretro,
morrendo por suas mãos e vivendo.
Aos que vão diariamente ao mercado
para comprar sua porção de tempo alheio.
Amo o homem em sua esquina, em sua ternura,
amo os pequenos em seus nomes incompletos,
a estudante atrapalhada com seus livros,
ao pobre em seu temor, por sua vida.
Hoje, amo os trabalhadores, e Te digo :
_ Eu voltava de Ti com outro pensar.
Porque eu não sabia que Teu bairro,
não era só Tua casa, senão um povo
que sofre por Ti sem conhecer-Te.
Porque eu não sabia que o crepúsculo
não é paisagem e sim o fim da jornada,
que as doze do sábado a rua
devolve ao trabalhador sua semana,
que os humildes enchem as igrejas,
os caminhos, as tardes, os domingos.
E essa é a vida igual e sem remédio.
Pela rua e por portas conhecidas.
Pensando em Ti, e a momentos esquecendo-Te.
Rui Garcia