Tiago subia as escada da rua, depois de um dia trabalhoso que atrasou o reencontro diário com o corpo da sua amada. Abriu lentamente a porta sem fazer barulho, lá dentro reinava o silêncio que abraçava a escuridão de uma maneira tão excessiva que para os seus olhos chegava a ser sombrio. Em bicos dos pés caminhava pela casa libertando o peso do cansaço de mais um dia de trabalho. Entregou um beijo de boa noite no rosto adormecido do seu filho antes de sucumbir ao sono daquela noite.
Dirigia-se ao seu quarto quando estranhou a luz acesa, ao entrar por o quarto adentro deparou-se com o corpo de Joana, estranhamente deitado por cima dos lençóis com o seu corpo ainda vestido, numa estranha posição que não era a dela. Talvez tenha sucumbido ao cansaço do dia, pensou Tiago aproximando-se do rosto pálido da sua amada. Lançou um beijo e sentiu a pele gelada, durante alguns segundos, temeu o pior sem querer acreditar, Tentou de todas as maneiras acordar Joana. Sacudia seu corpo cada vez com mais força. As lágrimas escorriam do seu rosto, plantavam a certeza que ele recusava-se a acreditar - que aquele corpo plantando na cama tivesse morto. Em estado de choque, tentava telefonar para o 112, seus dedos tremiam, depois de 4 tentativas sem êxito conseguiu efectuar a ligação. A sua voz gritava pelo nome da sua amada, suas lágrimas sentiam-se fora daquelas paredes.
Do outro lado do telefone questionavam-no sobre a situação, nada era esclarecido Tiago soluçava sem controlo, lá uma ou outra palavra escapavam, a morada foi uma das informações. Com tanto barulho que violava o silêncio daquela sombria noite, seu filho ainda meio a dormir questionava-se sobre o que ali acontecia, sem respostas já brotavam lágrimas sem saber o porque. Tentou acordar sua mãe mas Tiago abraçou o seu filho chorando dizendo que sua mãe não iria acordar, estava a dormir um sono profundo e carregou com ele até ao fundo onde deitou-o novamente na sua cama. Com lágrimas por todo o canto seu filho questionou-lhe se iria ficar tudo bem. Tiago parou as lágrimas como um acto de coragem e com um gesto silencioso afirmou que sim. Apagou a luz, fechou a porta e as lágrimas instantaneamente inundaram seu rosto.
Dirigiu-se ao seu quarto e com o seu corpo dormente em choque sem saber o porque de tudo acontecer, abraçou o corpo de Joana sem vida e adormeceu desejando que tudo fosse um pesadelo que de belo só teria o choque de acordar e ver que tudo era mentira. Mas não o era. Naquela noite ela partirá e Tiago entregue ao silêncio da noite, por causa do choque da dor de perder alguém nunca mais foi o mesmo.
Continua....
André Henry Gris