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final feliz

 
Tags:  poema dos outros  
 
Mudo, sem começo, apenas uma pretensão,
no chão circular,
concêntrico,
sem sair do lugar
avançar no tempo,
como pião...

Giro, assim me deixo
até à tontura
e à agonia da volta,
tão clara como escura.
Corrijo o fosso que cavo,
agarrado ao meu eixo...

Acabo como principio,
na mão de uma criança,
pequena e esguia,
para reiniciar a dança
de só no tempo avançar
na soltura de um fio...

Rodopio...


Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.

Eugénio de Andrade

Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.

 
Autor
Rogério Beça
 
Texto
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 08/12/2008 13:52  Atualizado: 08/12/2008 13:52
 Re: final feliz
imaginei um pião a rodar sem parar. gostei do poema. bj

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 08/12/2008 15:28  Atualizado: 08/12/2008 15:28
 Re: final feliz
Um rodopiar no pião, ou no tempo?
Rogério gostei imenso do teu poema, como sempre a tua creatividade continua muito produtiva,

beijinhos

Luisa Raposo

Enviado por Tópico
MariaSousa
Publicado: 08/12/2008 15:38  Atualizado: 08/12/2008 15:38
Membro de honra
Usuário desde: 03/03/2007
Localidade: Lisboa
Mensagens: 4047
 Re: final feliz
Rodopiar nas mãos de uma criança é felicidade.

Bjs

Enviado por Tópico
Vera Sousa Silva
Publicado: 09/12/2008 14:23  Atualizado: 09/12/2008 14:23
Membro de honra
Usuário desde: 04/10/2006
Localidade: Amadora
Mensagens: 4098
 Re: final feliz
Um rodopio com final feliz nas mãos de uma criança

Beijo

Enviado por Tópico
Margô_T
Publicado: 30/08/2016 08:22  Atualizado: 30/08/2016 08:22
Da casa!
Usuário desde: 27/06/2016
Localidade: Lisboa
Mensagens: 308
 Re: final feliz
“Mudo” e parado (“sem começo”), o pião tem como única “pretensão” circular “no chão” em torno de si próprio, fixando um ponto (“sem sair do lugar”) enquanto avança “no tempo”.
Gira o pião no chão e parece que o tempo, de repente, pára enquanto nos focamos no movimento deste objecto frenético… em “rodopio” e rodopio e rodopio…
Gira o peão no pião “até à tontura”, sentindo a “agonia” de cada “volta”…
as luzes que se distendem da janela tornam-se intermitentes com o movimento, por isso a paisagem é “tão clara como escura” enquanto o peão se ajusta nesse “fosso” - que cava no chão – agarrando-se ao seu “eixo”.
Gira o pião e rodopiamos todos nós com ele…
cavando um fosso por onde andamos às voltas no espaço (sem sair do mesmo ponto), perdendo a noção do tempo que perdemos.
Mas rapidamente voltamos a passar de peão para pião para assegurarmos um “final feliz” a este poema, nas mãos “de uma criança”.

Não obstante, a dança repetir-se-á após um novo lançamento onde o desenrolar rápido de uma fieira nos lançará na “soltura”…
e rodopiaremos, felizes, nesta aparente liberdade
até as nossas mentes nos voltarem a tornar um peão e repararmos que esse tempo que gastamos girando não mais regressará - e nós cá andamos, saindo pouco do mesmo ponto… e vendo (quase) sempre a mesma paisagem
em claro/escuro/claro/escuro/claro/escuro.