As mãos gelavam como pregos espetados
nessa rua com passeios de linho
por mais que escrevesse a luz não desaparecia
ele era um artista
não porque tivesse grandes obras
ou porque estudou arte
não porque cantava com voz agravada
ao fumo de um cigarro, ao toque de copo de vinho
não porque me fotografava
com aqueles olhos gigantes, penetrantes
porque as mãos gelavam em luvas de renda
foi uma prenda para ele
De noite vagueava
olhava as estrelas, confundia as luzes citadinas
escalava montanhas de betão iludido na sua arte
porque ele era um artista
escrevia num abstrato literário
pintava um expectro narrativo
no fundo só queria ler a sua vida
nas mãos de uma qualquer criança
Cosia formas disformes
com cetim e seda
aqueles monstros que eram a arte
e ele o artista
Num vocábulo pobre que escondia no bolso
assinou o seu nome
Eu, o artista
MF