Sossego o meu espanto.
Cai uma névoa fria, paralela ao rio,
Que se esconde detrás das luzes,
Violáceas ou amarelas, dependendo aqui
De qual a inflexão, ou de que silhueta nocturna
Estas já tomaram pra si.
O silêncio, que sei por lhe escutar
Do longe o ínfimo ruído, é na mente que o ponho,
Enquanto isso latejantes, os ouvidos
Se pronunciam, quiçá por excessiva capacidade
De armazenamento.
E um cansaço, que é mais de coisa sentida na carne,
Que cansaço, propriamente dito,
Diz-me das pernas como dos braços,
Uma sua inutilidade quase confrangedora.
Frio… nas mãos… e nos pés também.
Já o olhar não pede licença ao vidro,
E a janela faz-se de carros, de luzes
E baixos relevos, essencialmente.
Que farão os poetas acordados, a estas horas
Tão tardias, de uma gélida madrugada?
Loucos, apaixonados…
Ó peso na alma – e nos pulmões também,
Reclamando a falta do oxigénio,
Provocada pelo excessivo zelo do cigarro.
Agrido o cinzeiro e recrimino-me:
“Fumar traz a quem fuma incapacidades
Cardiovasculares…”, adentro… nos olhos…
Agressivas letras, garrafais.
É já completa a nébula, e o silêncio gradual,
Grita-me um último baque… em surdina…
Nos ouvidos… Pergunto-me:
Quem o que aqui, se disse à noite,
O louco e apaixonado,
Ou o que trouxe consigo, algo de restos diurnos,
A necessitarem de confidencialidade?
Finalmente a gaze…
Jorge Humberto
(12/12/2003)