Tal como não existe escuridão e sim ausência de Luz, assim se crê que é à ausência de Bem que damos o nome de 'mal'...
As consequentes cisões, quer dentro quer fora de nós mesmos, mais não fazem do que redimensionar esses conceitos inventados na necessidade permanente e imperativa de explicar um desconhecido que só o é porque somos, de facto, demasiado preguiçosos para abarcar o universo além visível, além crível na ignorância imensa com que (não) vislumbramos tudo o que (não) somos e nos acomodamos às (falsas) certezas de uma racionalidade duvidosa porque baseada em preconceitos variáveis de questionável aplicação…
E porque não pode a ausência de Bem ser simplesmente um vazio inócuo sem qualquer outro conteúdo que não simplesmente ele mesmo, o vazio pleno e absoluto…?!
Espaços vazios não carecem de obrigatório preenchimento, pois que o vazio que nada contém terá igualmente utilidade, ainda que o nosso limitado espírito lhe não alcance o pleno significado e se desvie de aprofundar o saber de algo que, sem (querer) conhecer, teme…
Temor… esse sentir desagradável e ancestralmente associado ao mal – ou à ausência de Bem – que o ser humano tenta evitar no inteiro engano com que alinhava conceitos e preconceitos em linhas frágeis de um viver nunca completo, porque incompleto é o ser que se queda na superficial busca de si mesmo, contentando-se em (in)certezas adaptadas ao seu caminhar periclitante por atalhos onde tudo o que encontra é… ausência de Luz!
E nesse passo em que perde - e se perde - do conhecimento profundo de si mesmo e dos planos em que (não) se move, crê-se sábio e sabedor de todos os segredos contidos na alma de um Universo que ignora, dono e senhor das (in)verdades em que sustenta o respirar entrecortado dos mitos (em) que (se) inventou, renegando a sua própria e vital transformação sem aperceber a mais ampla dimensão de tudo o que existe além olhar…
A final, talvez o vazio seja simplesmente passagem para uma outra margem de existir na oitava acima deste plano que o (im)perfeito ser humano, nunca humilde, antes soberbo, preenche de mitos e crenças infundados no sustentáculo da sua perene ignorância…
(Composição de imagens de autores desconhecidos com efeitos de edição by Zita