Já sinto a força
Que me vai chupar
Cada gota de sangue,
Que me vai roer a carne...
Vão ficar os ossos,
E o fluído necessário
Para ser ossada viva
De um passado morto.
Vai-me sugar delicadamente,
Chupar-me continuamente,
Matar-me metaforicamente
Para acordar numa nova vida.
Quando eu for pouco mais
Que ossos e unhas a mais
Não foi roído o que resta,
Fica para me lembrar
Onde foi parar o que se foi,
Onde anda, onde corre,
Quente e intenso,
O outrora meu sangue
Que agora é um número a mais
Num corpo estranho.
Custa deixar acontecer,
Parecia inevitável e no entanto
Havia tantos caminhos a tomar
Quantos aqueles que não tomei.
Fica a esperança na piedade,
A visão de justiça distante
De tal forma que não a vejo.
Não rezo a Deus se a piedade
Só pode vir da pessoa.
Não é Deus,
Não é pessoa,
É visão de piedade
Depois da culpa.
1 de Dezembro de 2008