Não sei decidir entre as várias teorias da verdade ou do riso. Entre as múltiplas interrogações, os cisnes nos lagos, as figuras evoluindo com a penumbra tutelar da noite, certas personagens diluídas em apontamentos que não ficarão sob a memória dos olhos ou das marcas digitais de quem folheia o tempo – a impossibilidade de viver muito –, mais para além do desgaste da realidade que desaparece.
E volta.
Ser a minha própria ficção – quando escrevo. Perguntar ao outro o que em mim ri, o que num instante posso pensar e morrer. Eis a amurada e os cisnes nos lagos que já não existem. Cada estado me transmite um outro real, descrevo sem ordem objectos ou sensações, as colunas de uma noite com fôlego para viver desamparado de referências. Esta verdade agora em frente ao espaço onde escolho no âmago da contingência
uma história que podia existir.
A existência e a relatividade. Ser feliz no que não vivi, sinto a melancolia do que nunca fui. Turva claridade das viagens adiadas quando a verdade me confunde – se eu ou um outro –, estive numa estrada àquela hora ou eram as árvores as sombras mais altas de uma cidade esvaecida na névoa. Não sei, as luzes acendiam-se em jardins desertos ao crepúsculo álgido de uma tarde líquida. E ainda – os barcos distantes adornando a tristeza
de silvos feéricos.
Não sei. É certo o mar mais próximo sob a velatura dos olhos, os faróis regressam pela marginal incrustando uma suave angústia ao anoitecer lento. Caminho por uma passagem na areia, o tempo que desliza no torpor do frio, o que ignorei da felicidade como um hábito que nos esquece. As vozes longínquas mergulhadas no ar, é o mundo descendo à sua mágoa real e medimos a alma pelas coisas como se a realidade não fosse mais
que a ficção que escrevemos.
Não sei.