QUESTÕES DA ALMA
Juliana S. Valis
Ah, queres te esvair, coração incauto ?
Mas não sabes o que te espera
Do outro lado da porta
Ou do outro lado da vida,
Além do invólucro chamado corpo...
Não, não sabes mesmo nada !
Teus versos são pífios fragmentos de ti,
Como vulcões e ventos nessa mesma estrada
Dos sentimentos que a vida desenhou aqui,
Bem no âmago de tua alma,
Ah, se tu soubesses rir...
Sim, se tu soubesses rir de tua própria história,
Na rua que o tempo traça sem perdão,
Talvez a tristeza fosse tão simplória
Que não sentirias esse coração
Explodir, assim, como barril de pólvora !
Mas tua alma é verso muito além da chama,
Muito além de ti, na profusão dos dias,
Como céu de incerteza nesse amor que clama,
Além da dor que ri em suas cores frias,
Céus, quem venderá futuro
No porto mais escuro das pífias alegrias ?
E se a existência pesa, insuportavelmente, assim
Na leveza etérea de tuas mãos vazias,
Terá, do outro lado, a dor realmente um fim ?
Será noite o término dos teus próprios dias ?
Ah, melhor seria não perguntar mais nada !
Ou perguntar ao Nada a simples função de tudo...
Céus, por que esse teu coração tanto chora e brada,
Nessa dimensão de um pranto tão profundo e mudo ?
Meu bem, a vida é imposição de labirintos sós ?
Se for, pouco importa o verso que te invade
Pouco importa o que penses diante desse medo,
Não querias existir, mas já é tarde !
Tu querias ir ? Mas é tão cedo...
E pouco importa se tu és sombra, assim,
Perdida entre vulcões de crianças, homens e mulheres,
O sentido da vida estará nas dimensões do fim ?
Meu bem, a vida tem o sentido que tu mesmo deres...
Então, por favor, não digamos mais nada,
Cala, enfim, teu coração incauto !
Trata de amar apenas na profusão da estrada,
Até que o mar da alma te leve em sobressalto...
Ah, queres mesmo te esvair, incauto coração ?
Mas não sabes o que te espera
Do outro lado da porta
Ou do outro lado da vida,
Além do invólucro chamado mundo.