Recebo teu corpo em meu corpo, tua alma em meu peito, deixo que o silêncio da noite nos abrace, que a magia deste momento nos enlace. Hoje somos apenas dois abraços que no escuro se enrolam num único corpo. Porque o medo nos tolhe, sentimos em nosso redor a protecção que as asas do sonho nos dão. E dormes, dormes em mim como um anjo, cansado de tanto pranto.
Sou cama que te acolhe, canção silente que te embala. Sou tudo não sendo nada. Lugar secreto que teu corpo guarda, prazer incontido que teus dedos queima, quando em minha pele te deitas. Sou tanta coisa num instante, vaga, loucura e incessante, em que navegas e te entregas num movimento constante. E sinto teu corpo palpitar em cada gesto de ternura, pura e singela doçura que em teu leito calado escondes, como poema, canção secreta que minha voz em silêncio entoa, e teus sentidos despertos escutam.
Afago-te os cabelos e solto deles o teu perfume, lugar comum onde me sentes, bailado em constante movimento que corpos desnudos agita, em convulsões rítmicas. Explosão de luz que a aurora atinge, derramando o dia sobre a escuridão da noite. E tu, sabes que estou aqui, que te agarro e te cubro de beijos, que te sinto na ponta de meus dedos, e cantas nessa voz inaudível, gemidos de prazer que apenas meus ouvidos escutam, loucuras e contos de um instante repleto de nós. E ficas, adormecida pelos meus braços, até a manhã te acordar e o corpo revigorado se reerguer para um novo dia que acaba de nascer.