Bêbado, onde está teu brilho?
Tua esperança onde está?
Na Rua no Norte, na Rua dos Afogados?
Como estás afogado... Bêbado!
Tu, que faz ponto na Rua 28
Que embriagado achas que faz coito
Coitado...!
Tua mulher onde está? Teu emprego perdeu?
Não percebes que em cada cálice engoles um sonho
Teus sonhos bêbado, onde estão teus sonhos?
Por que bebes tanto?
Será de alegria ou será pra enxugar teu pranto?
Como? Se não chora? Cantas de bêbado na Rua da Alegria
Que tristeza...!
Onde moras? No Portinho? No Lira?
Como é teu nome? Tens família?
Fala bêbado! Tu és surdo ou qualira?
Não notastes que bebestes os dias, as horas, os minutos,
Tua derradeira esperança?
E o bêbado inerte na sarjeta imunda
Trajes rasgados, rasgado a alma rasgado a bunda
Queria ser doutor, não era?
Já sei: bebes por emoção. Como? Se não cantas uma só canção
Assim como fazem os poetas.
Compreendo: bebes de frustração
Por não ser doutor, por não ser poeta, por não ser feliz,
Por não ser soldado
Ou por ter nascido na rua dos veados.