poemas negros começam a varrer a minha cabeça
um turbilhão de sentimentos e emoções
de uma alma perdida,
de um espirito desiludido,
de um coração desalojado!
a neblina caiu sobre a vida
de cor negra como em dias de tempestade!
um terramoto deu-se na minha vida
varrida por um maremoto...
causado por um amoremoto...
vejo-me a passear nuns terrenos desconhecidos,
outrora conhecidos prados verdejantes,
agora pântanos obscuros!
nuvens negras continuam a rodopiar no céu
a mil à hora como a dor a correr no corpo.
anjos negros, necrófagos dos pântanos
esperam por me levar a alma,
pintam e minam o espirito de negro,
despedaçam o coração, esfarrapam-no, destroçam-no;
nos meus olhos o brilho perdeu-se,
como o brilho das estrelas, dos sorrisos e do sol...
agora estão negros...
imensamente negros, das negras lágrimas!
já chorei lágrimas salgadas,
já chorei sangue,
já chorei algo de negro, negras pétalas
- lágrimas de nanquim
que ao saírem dos olhos parecem bocados de vidro e da vida...
farpas, lanças, facas, espadas, agulhas... dor!
o negro lodo, nasce e cresce sem parar
neste pântano de areias movediças
areias negras,
lama vermelha de sangue
de amores assassinados,
o ar sufoca de tão pesado, de tão húmido,
as palavras tornaram-se silenciosas
apesar dos meus gritos ensurdecedores
mas que não deixam de ser silenciosos.
só se ouve o riso dos anjos negros,
aterrorizador, faz-me cair,
parece uma trovoada, mil vezes pior!
onde existiam imponentes árvores verdes
encontro pedaços de troncos negros.
cai neve, neve negra...
olho para o que seria o sol – está apagado...
deambulo à procura de caminhos
pois os que percorri encontram-se negros
das negras lágrimas que já chorei...
tudo é negro...
esqueceram-se de pintar este quadro,
o quadro da minha vida...
parece pintado a carvão,
fotografia a preto e branco,
sem alegria, sem sorrisos, sem brilho...
estou perdido!
as portas da felicidade teimam em se fechar,
os guardas do paraíso teimam em não me deixar entrar,
fico para trás...
a minha roupa está em mil farrapos
e pior está o corpo... e a alma... e o coração...
arranhado, dorido, sujo, chicoteado, torturado...
tudo à minha volta está tão negro...
pareço estar dentro de uma caverna
bem no centro da terra.
não consigo procurar rota,
não consigo andar...
tou a ser devorado por corvos, por lobos,
por morcegos, por abutres, por piranhas, por cobras,
por escorpiões, por larvas...
estendo a mão à procura de ajuda
mas pisam-na, escondem-na...
já perdi a esperança de encontrar uma pomba branca
ou de um anjo de plumas brancas,
perdi a esperança de tudo e qualquer coisa,
abandonado, triste e só...
pego numa guitarra à tempos guardada,
uma guitarra sem cordas,
tento tocar uma balada melancólica,
com os dedos a sangrar...
parte de mim morreu
e a outra parte morre lentamente com dor!
Bruno Ribeiro
Lx. Outubro.06