Fugir do prazer e da paixão é utópico.
Ser feliz ao aquietar a dor é distópico.
Quero ensinar a Epicuro
Que a ataraxia é processo de fracos
Que morrem confinados à sua inexistência.
Quero ensinar a cada homem,
Discípulo brejeiro e altivo
Que escrever é não ter medo.
Quero ensinar a cada mulher,
Que sobre elas pouco sei
Senão escrever-lhes.
Quero ensinar aos hedonistas
Que olhem para Epicuro,
E quero ensinar a Epicuro
Que olhe para os hedonistas,
E se anulem, se encontrem
Num ponto médio matemáticamente perfeito,
Algures entre a razão e o prazer
Está o amor.
Os homens não vão compreender,
As mulheres vão agradecer,
Os filósofos vão arder
Nas chamas do seu extremismo.
Aquele que ouvir a minha palavra
Vai odiar-me como perigo que espreita.
Aquela que ouvir a minha razão
Vai ouvir, e abrir a flor que tem,
E Epicuro perderá a razão,
Na mais dramática refutação a que já assistiu.
Quem escreve nada tem que temer
Quando sabe a razão que tem,
Sabe as contas que faz,
E no fim de contas refuta com palavras de amor
O filósofo que nunca as quis ouvir.
23 de Novembro de 2008