Passeava eu, entre o mato, que circunda as dunas,
quando senti, na distância, o aroma marítimo do
mar, achando-se logo mais em baixo. Saindo do
incómodo deste cerrado matagal, comecei por fim
a descer as dunas, em direcção ao clamor das águas.
Inda era manhã cedo, e, a madrugada, na sua névoa
espessa, escorria, como areia dos dedos, para o interior
da floresta, levando consigo seus últimos resquícios.
Ao longe, no horizonte, o sol já se distanciara, de sua
prisão nocturna, aquecendo e fulgindo, tudo à sua volta.
Como o mar estava de maré baixa, não estranhei alguns
madrugadores, abrindo buracos na areia, alcançando
assim as amêijoas, enquanto as crianças, entretinham-se
apanhando conchinhas, que logo corriam, a mostrar aos
pais, de tão ocupados que estavam, pensando no petisco.
Talvez adivinhando a chegada dos pescadores, um monte
de gaivotas, circundava por ali, poisando, para logo levantar
voo, pulando de lá para cá, demonstrando um certa
ânsia, pela chegada do peixe, seu alimento favorito e a que
nunca faltaram, faz muitos anos, apesar da pesca escassear.
Nisto o sol, tomou definitivamente conta do areal e da praia,
e começaram a chegar os primeiros veraneantes, cheios de
coisas e mais coisas, que mais pareciam ir para uma campanha
humanitária. Nunca percebi, como uma só pessoa, consegue
transportar tanto, de uma única vez, bastando o essencial.
Logo se estenderam as toalhas pelo chão, arrumando o demais,
tudo muito certinho e juntinho, pois ali exige-se pouco esforço.
Saíram os cremes protectores, e, depois, de bem besuntados,
deitaram-se ao sol, que me perguntei, o que faria ali aquele
imenso mar, convidando as pessoas a entrarem nas suas águas.
Aparentemente as pessoas não sabem divertir-se. Trazem a
casa para a praia, não arredando pé, de suas coisinhas banais.
Não me importando, com tal situação, corri feito louco e
mergulhei nas ondas avidamente, usufruindo do bom que o
mar me dá, sempre que nos unimos, em um único corpo.
E sozinho nadei a bem nadar, subindo e descendo as ondas,
tendo o mar imenso só para mim e meu deleite. Percorri, de
uma ponta à outra, toda a linha da maré, sem ter nenhum
incómodo sequer nem pessoas, com quem interagir, o que,
diga-se, causava mal estar, e logo outra onda sacudiu-me.
Jorge Humberto
22/11/08