Poemas : 

Oitavas

 
Tentando consumir tantas falhas,
Por entre tormentos que não se esquecem.
Homens que fumam pequenas mortalhas
Em noites distantes que se enriquecem.
O cheiro e o gosto das batalhas
Consumadas nos campos que estremecem
Ao sentir milhares de corpos nas fornalhas
Acesas por aqueles que nem a vida merecem.

As feridas que reabrem na recordação
Dos mistérios desvendados sem glória
De, em dia algum, terem preocupação
Ao abrir mais um livro de história,
De lembrar toda aquela solidão
Em que soaram trompetas de vitória
Por entre tanta confusão
Nos pensamentos que me correm a memória.

A incongruência humana
Que se mostra em actos vis e dementes
E em tudo o que o Homem emana
Nos seus diálogos surdos tão evidentes
Todos os dias da semana.
Estas formas de vida inteligentes
Que não são mais que gente insana,
Em busca de sonhos diferentes.

O ar distanciado do sofrimento
Esboçado em faces descoloridas
Pela fome que não tem sentimento,
Nem sofre por matar vidas
De crianças, velhos… todo um regimento
Que não têm culpa dessas acções desmedidas
Que os loucos fazem a todo momento
Achando-as sempre divertidas.

O infame riso nos lábios do carrasco
Que vive do sofrimento e do mau trato.
Como se fosse carne para churrasco,
Para um barbecue indiscreto.
Um homem desconhecido que mato,
Por considerar a vida um fiasco,
Uma vida de assassinato…
Fruta podre que descasco.

Este mundo em que vivemos
Nós os miseráveis, há milénios,
Que desprezamos aquilo que temos.
Nós os grandes génios
Pelo que inventamos e fazemos,
Polivalentes em todos os domínios,
Mesmo os que não conhecemos,
A dor dos nossos infortúnios.

Cinzentas tardes de cheiro a carvão,
Queimando carne nos cemitérios
Completamente dilapidados pela população
Que destrói todos os impérios,
Pelas mãos da revolução,
Como se fossem homens sérios
Que não ligam à discriminação
Ou a todos os outros mistérios.

Nesta incompleta história arrepiante
Que não começou, nem tem fim,
Mas que tem um desenvolvimento chocante
Em que todos dizem que sim,
Como heróis sem semblante
Que andam perdidos assim,
Temendo diariamente o onerante
Que é seu ego… enfim.

Por entre jogos de sorte,
Máfia de indivíduos facinorosos
Cuja ocupação é a morte.
Os nossos pensamentos ociosos,
Qualquer coisa que ninguém suporte
Por serem tão meticulosos,
Nada que a mim importe.
Incompetência de fiscais criteriosos.

Páginas infindáveis de velhos compêndios
Perdidas na biblioteca da nossa vida
Que nada mais é que censuráveis vilipêndios
De forma repressiva e desmedida
Que alastram como se fossem incêndios
Resultantes da colossal força perdida
Em terras para além dos silêncios,
Terras de entrada proibida.

A todos se apresenta a indiferença,
Lobo disfarçado em pele de cordeiro
Adulterando tudo na sua presença,
Como se fosse ele o primeiro
De todos aqueles com a sua semelhança.
Espelhos espalhados num terreiro
Que multiplicam a falsa esperança,
Que fazem autópsias de luz a algo verdadeiro.

Por entre agendas e calendários,
Contando e marcando os dias,
Guardando-os em mil armários,
Envoltos em pútridas porcarias,
Como se fossem objectos primários
Escondidos pelas pratarias.
Prateleiras forradas a luxos imaginários
Em modestas alfaiatarias.

Devaneios sistemáticos
Por entre pensamentos dispersos
De acontecimentos enigmáticos
Vindos de ilhéus Atlantes submersos,
Cheios de vida, com Duendes simpáticos
Que ludibriam esses momentos adversos,
Simples e problemáticos.
Medalhas de ferrugentos reversos.

Odes e maldições lançadas ao acaso
Em sonhos que mostram belezas do infinito
Seres desconhecidos, caso a caso,
Algo que mais não é senão bonito
Como um constante e sombrio ocaso
Incessante olhar de homem aflito
Num momento em que o defendo e arraso
Em quão perene conflito.

Veleiros e barcaças que se cruzam
Em mares altos de tempestade
Adamastores que pegam na chuva e sopram
Mostrando desequilíbrio e desigualdade
Entre homens que se usam,
Fantoches encordoados da divindade
Que a tudo se escusam
Perante o chicote da verdade.

Astrónomos enterrados em ciências perdidas
Em livros que são agora ilegíveis
Carregados de letras indefinidas,
Que relatam experiências impossíveis
Com as habituais cobaias iludidas
Por promessas sempre irrecusáveis,
Tapando os olhos às mortes imerecidas.
Pensamentos inimagináveis.

Aquela força que nos faz perecer
Entre fumos de incêndios irreais,
Excessos cometidos ao velho entardecer
Cuja morte não lhe chega jamais.
Centenária sede de viver,
Cada vez mais, sempre mais,
Infindáveis caminhos do conhecer
Que nos tornam algo superior a animais.

Poetas miseráveis que vão escrevendo,
Procurando suas amadas seduzir
À luz de uma vela que lhes acendo,
Em candelabros de prata sempre a luzir,
Escorrega a cera que vai derretendo
Até a nada se reduzir,
Coisas simples que não entendo
Nestas terras mouras sem Grão-Vizir.

A distância que nos separa, interminável…
Entre dias e noites de obscenos pensamentos
Que mostra o lado de todos nós, memorável…
Um dia esquecido nos teus sentimentos
Neste mais do que certo amor, inviável…
Em todos os sentidos vão meus juramentos
De uma vida sempre sem destino, instável…
Sempre viajante, em infinitos firmamentos.

Desejo de continuar um romance perdido
Entre palavras e milhentas desaprovações,
Dos que não são mais que um amigo fingido,
Que aparece… desaparece… situações,
Para desgosto meu, homem ofendido
Velho e cansado por estas humilhações,
Demónios e vermes que me vêm perseguindo,
Espaço cada vez maior entre nossos corações.

O silêncio da escuridão
Em noites de nevoeiros e temporais,
De chuvas lacrimosas em dia de Verão,
Quentes saunas de produtos naturais
De antigas florestas abatidas como solução,
Desastres não ecológicos mas laboratoriais
Feitos pela ciência louca que adora a solidão
Estar rodeada por ninguém, entre animais.

Saindo de uma batalha… incólume,
Eis o nobre guardião eterno,
Tapado pelas honras do costume,
Qual Lúcifer em seu inferno
De cor amarelo lume,
Que obedece a um subalterno
Que espalha enxofre e seu perfume
No vento cortante do Inverno.

Como num evidente acto sexual,
Um espasmo de alegria que se solta
No meio da multidão, com voz natural
Como se fosse iniciar a revolta,
De contornos definidos e fundamental.
Tantos problemas à minha volta
Que me rodeiam nesta vida brutal
Que o mar cobre e exulta.

Secundíparas que choram em conjunto
Pela morte terrena dos seus
Que juntam a cada dia mais um defunto.
Cemitério de Muçulmanos e Judeus
Um caixão em cada vala, tudo tão junto,
Que esperam milagres de um qualquer Deus,
Vidas angustiantes sem assunto,
Que diferem em credos, meus ou teus.

Acções incontidas de enormes prazeres
Que controlam as vidas como num sonho,
Que nos mostram os mais belos dizeres
Vindos do povo em músicas que componho,
De dentro de pautas que tu escreves,
Em tudo o mais, eu suponho
A guerra, a paz e tudo o que defenderes.
Eu dito, tu fazes… tu pões, eu disponho.

Monólogos inconstantes da consciência
Que se bate no dia a dia por qualquer razão
Não encontrada jamais na inteligência,
Navegante em limbos e paraísos de ilusão
Que se cruzam repetidamente na demência,
Na procura infindável da única solução
Que deriva de uma qualquer consequência
Que nunca teve razão ou quis ser equação.

Dormem os Deuses nos seus leitos de prazer
Sobre compêndios divinais a ouro paginados,
Os Sátiros que os lêem sem saber.
Horas que são anos e meses misturados
Em todo o tempo, sem nada a fazer
Nestes Olimpos perdidos de névoas cercados,
De oásis pintados por Vénus a seu bel-prazer
Com o menestrel cantando aos pais amados.

No desabrochar das flores mais belas
Das cores que iluminam o campo sem nada,
Como se fossem simples e esguias velas
Iluminando uma cripta abandonada
Junto a confessionários de igrejas e capelas
Ao lado de uma pequena campa plantada
Em memória de divas e donzelas
Tiradas de histórias de banda desenhada.

Objectos inúteis que ornamentam um quarto,
Embelezado por véus levantados pelo vento,
Mostram a memória que fica quando parto,
Conseguindo esquecer tudo o que não tento,
Que desta triste vida vou ficando farto,
Esperando o futuro que parece tão lento
Como o andar de um pesaroso lagarto,
Que vai parando a todo o momento.

Mulher de olhos azeitona que amou,
Com riso sempre sarcástico e bonito
Que mais um coração enfeitiçou,
Que outros olhos pôs olhando o infinito,
Numa dimensão distante que a todos escapou,
Por nosso alcance ser tristemente finito,
Por não sabermos que só o amor matou
A quem não ama e não ouve este grito.


A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma

 
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Alemtagus
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Enviado por Tópico
Valdevinoxis
Publicado: 23/04/2007 17:32  Atualizado: 23/04/2007 17:32
Administrador
Usuário desde: 27/10/2006
Localidade: Aguiar, Viana do Alentejo
Mensagens: 2118
 Re: Octetos
Com pompa e circunstância. Está bem escrito mas é demasiado extenso e isso torna a leitura complicada. quem lê perde-se e mesmo tu chegaste a perder-te nos sentidos. Requer bastante esforço para manter a concentração na leitura (especialmente se se está ler no monitor). Mas é de te elogiar a escrita e de te dar a boas vindas a este crescente canto da poesia.

Valdevinoxis


Enviado por Tópico
Mel de Carvalho
Publicado: 23/04/2007 18:31  Atualizado: 23/04/2007 18:31
Colaborador
Usuário desde: 03/03/2007
Localidade: Lisboa/Peniche
Mensagens: 1562
 Re: Octetos
Se alguma coisa eu sou, nesta vida, lhe digo meu amigo que chegou ... é ser prolixa. Extensa no verbo escrito e parca na oralidade ...

Confesso que fiquei "assustada". Li de viés e imprimi. Vou ler a caminho de casa. De qq forma o pouco que li, pareceu-me de boa qualidade, pelo que, estou em acreditar que virá dar um contributo positivo a este espaço a que eu já me fidelizei.

Um abraço d(a)e Mel!