Levando cuidado, no caminhar sobre as rochas,
que espreitam, lá em baixo, o mar, salpicando
tudo à sua volta, num frenesim de águas revoltas
e de espuma, como crinas ao vento, dirijo-me
para uma flor amarela, junto ao precipício, nascida
entre duas pedras, com algum musgo, ao seu redor.
Chegando ao destino, eis reparo, como a bela flor,
contra todas as intempéries, cresceu farta e de cor
bem prenunciada. Ali o vento sopra perigosamente,
e um passo em falso basta, para irmos de encontro
às águas perigosas, que não cessam sua grand fúria,
em ondas simultâneas, batendo de encontro à frágua.
Cabelos esvoaçando, sem tino, decido-me sentar-me,
junto à flor, que, melhor do que eu, suporta o vento,
parecendo-me feliz, pelo poiso encontrado, onde,
todas as manhãs, recebe o alvor do calor do sol, que
a vai alimentando, com a sua fotossíntese, que água
não lhe falta, subindo pelas feridas abertas, na rocha.
Ainda fascinado, com a nossa florzinha amarela, que,
sem pestanejar, mantém-se firme nas suas pedrinhas,
com algum esforço, consigo tirar do bolso, do casaco,
um bloco de apontamentos e um lápis, e, inspirado,
por esta força da natureza, inicio uns versos, minha
sentida homenagem, numa indelével recordação à flor.
Mal eu reconheço minha letra, pois o vento não dá
tranquilidade, para mais. Entanto, terminado o poema,
despeço-me da esplêndida flor, que me soube incutir,
estas palavras, que vos deixo, de um momento factual,
quase insólito, que chamou minha veia poética, para
que a beleza não ficasse escondida, ante nossos olhos.
De facto, a natureza, é pródiga, em nos surpreender!
Jorge Humberto
21 / 1 1/08