Retratos da vida
Se fossemos descrever a vida enquanto fotografias haveria um sem número de álbuns, vez que a vida é múltipla, reproduz e reparte, recria-se a cada ínfimo instante.
Meu álbum é relicário, onde convivem pequenos inestimáveis tesouros, antigas partículas de lembranças, rescaldo por vezes áspero da memória, alegrias e elegias infindas, desencantos e desencontros, insolúveis saudades.
Alguns têm álbuns em tons sépia com envelhecimentos que entranharam com a vivência, outrora provocaram suspiros, visual em preto e branco, porem retratos perfeitos de uma vida normal.
Outras pessoas, no entanto começam o seu colecionar em tons cinza, obscuros e incompreensíveis aos olhos, fotografias de uma mente em névoa, um viver sem viço ou aquecimento. Fotos que se revelam em cinza. E cinzas serão.
Há casos de gavetas emboloradas, fotos esbranquiçadas, disformes que também não se compreende o existir. Distingui-se pouco, manchas e fumaças não do tempo, mas de uma vida que não passou em preto e branco. Passou em branco. Brancas nuvens, apenas passou.
Muitos de nós terrenos e perenes temos quase um não objeto de memória. É como não ter recordações, são álbuns esvaziados que já nasceram com tão pouco e esse pouco se perdeu, descolou, então folheamos apenas o vazio. Álbuns vazios de pessoas vazias, de vidas esvaziadas. Apenas o sinal resquício de cola que resta. Nem cinza, nem branco, nem embolorado. Nada.
O colorir está disponível. Primeiro porque está na natureza, desde as estações tem suas cores, está na própria vida, no sangue vivo que corre nas veias, está em tudo ainda que não seja por muitos percebidos.
Sei de álbuns simples de poucas fotos, porém de cores visíveis, compreensível, imagens retratadas de um viver possível, capaz de deixar suas marcas, de revelar e ser revelado. Filmes que se justificam apesar da simples resolução. Vidas marcadas pela simplicidade, com gestos que as fazem existir. Fotos significativas.
Preciosos são os álbuns vibrantes que retratam nitidamente nas imagens e na contra-imagem o porquê de haverem sido colecionados. Não há pedras preciosas, há pedras obstaculares que se fizeram retirar ou contornar. Não há tons alegres porque foram eternas imagens de alegria, há tons alegre de lutas sucedidas de vitórias, símbolo do que não foi sempre fácil, ao contrário, muito difícil mas angariou valores pelo resultado alcançado.
Esses álbuns têm cor importância maior, porque estão impregnados de energia, vibrações dos personagens que fizeram da vida um rol de perdas e ganhos. Da dor um aprendizado. Dos sentimentos ruins, esperanças e gestos nobres.
Cada um monta, coleciona seu álbum, sua passagem aquilo que é materializado nas fotos, o material que um pouco mais perdura, quando a nossa materialidade se vai.
E por não sabermos dessa temporal permanência no Álbum da vida é que somos sacudidos com nossas experiências mais duras, que são alerta para que possamos ter não belas fotos, exuberantes, mas um apanhado de fotos com significância que sirvam de exemplo enquanto aqui estamos, sejam bons recados, causem alegrias, alento, para quem folhear. E que fiquem na memória gravados pelas cores e nitidez, beleza que se perfaz por entre as imagens, capazes de informar através do que propriamente não se vê com os olhos terrenos.
E o seu álbum?
Como está?
Não esqueçamos todos: Enquanto estamos em cena não podemos voltar as imagens, algumas sequer apagam, mas podemos avançar nos dispondo a novas fotos, novos cenários, novos e mais acurados olhares, essa é uma permissão que temos.
Que tal revitalizar o álbum?
[size=large]Citando:
A felicidade é branca... O amor tem matizes que nos fazem ver o infinito..
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O desejo de escrever persiste, por vezes em tons felizes, vibrantes cores, outras em tons pastéis. cor de pérola, mas o que importa é que não há r...