Pandora...
Alma que habita um corpo frágil, singelo...
Face meiga, olhar sombrio, distante...
Vagas entre os mortais sem que estes se dêem conta
De que tens fome de almas
Sede de sangue
Corre em tuas veias, a vida das almas
Que encontram em teus braços o afeto Que a vida lhes negou...
Roseira que produz as mais belas rosas Cheias de vida, coloridas...
Ao amanhecer, cobertas de orvalho...
Exalam seu perfume, suave néctar
Enchendo os ares de vida, encanto...
Mas na sua essência é cheia de espinhos Que perfuram e mutilam...
Causam dor, a dor do amor Que definha e corrói a alma
Daqueles que ousam usufruir seu perfume...
O mundo é pequeno para definir
O universo que é esse ser
De mistérios, segredos, sonhos, pesadelos...
Tormento para os desvairados que tentam entrar em seu mundo
Compreender seus pensamentos, interpretar seus desejos...
Oh! Pobres mortais, que no anseio da vida
Se deparam com esse ser que és...
Dor que corta profundamente Mas que enquanto corrói o peito
Mórbida, serena, constante...
Dá prazer à alma triste...
Que na penumbra tem seu leito
E na escuridão do ser
Deleita em estar aí...
Morta, fria, eterna...
Livre dos limites do tempo e do espaço...
Pairas sob um manto de mistério...
Na vida, que se esvai qual chuva... Melancólica e fria, constante...
Caindo e caindo sempre...
Indo pra qualquer lugar
Pra lugar nenhum...
Chegando onde sempre já esteve...
És o som da água que cai Gotejante, lentamente, molhando...
Saturando o ser de tristeza perene...
Ah! Cristal belíssimo, que expande luz
Desejado por todos, e todos, todos um dia...
Gostariam de ter consigo algo tão belo e valioso...
Ao se aproximarem, porém, a beleza ofusca o ser
Tornas-te fria, tão fria quanto o gelo Insensível quanto uma rocha
Impenetrável aos incautos navegantes
Que em seus mares aventuram Descobrirem teus mundos...
Por mais que um dia alguém ouse descrevê-la Se perde em meio às formas...
Disformes facetas da tua alma
Que a cada instante se revela
Mais bela e menos compreensível...
E o obscuro mundo que é teu ser
Com seus mórbidos mistérios
Se transforma em algo que não se pode medir, comparar, compreender
Nas dimensões que nós, meros mortais podemos atingir.
Josafá Gomes Pereira
05/10/2006