Acordo como se fosse explodir.
Ainda antes de abrir os olhos já as idéias me assaltaram.
Não os abrindo sinto o fosso entre mim e a minha realidade alargar-se além visão.
Sinto algo latejar dentro de mim e digo a mim mesmo que não é hoje o dia.
Levantando-me a custo inicio uma rotina que me recompensa pesadamente.
Dou espaço a tudo acontecer mas na verdade o acontecido não me satisfaz.
Encaro o espelho e como sempre reconheço o mundo em mim, não obrigatoriamente gostando do que vejo.
Rituais de higiene e manutenção matam presentes sucessivos e o passado é oco.
Começo por alimentar a mente pois o jejum ajuda a minha concentração e análise.
A musica leva-me onde quero estar e em breve os caminhos abrem-se perante mim.
A Vida latente atrás de cada porta faz-me sentir o Gato de Schrödinger e quase me sinto uno e dividido ao mesmo tempo.
Sei que mais dia menos dia terei que partir.
Partir amarras.
Partir para longe.
Partir os cornos.
Sei que não tenho nada a perder ou ganhar.
Mas a beleza do caminho é o suficiente para me fazer caminhar e nem mesmo eu posso evitar o que vai dentro de mim.
O Mundo á minha espera em tudo aquilo que não conheço.
Tudo o que sei desaparecer e restar apenas a criança que guardei.
A musica que toca só para mim e que um dia vou cantar para todos ouvirem.
Sempre sonhei que este mundo era um sonho e brevemente vou acordar para Ele.
Descobri que após ver a luz não é por fechar os olhos que fico no escuro.
Uma vida menos que plena é uma chance perdida e não quero correr o risco de desperdiçar a única vida de que me lembro.
Vou ter tantas saudades de estar vivo!
A necessidade estará em escrever ou em ser lido?
Somos o que somos ou somos o queremos ser?
Será a contemplação inimiga da acção?
Estas e outras, muitas, dúvidas me levam a escrever na ânsia de me conhecer melhor e talvez conhecer outros.