Poemas : 

coreografia de gestos

 
Tags:  surrealismo  
 
o Inverno, de mansinho volta,
no redemoinhar das folhas amareladas por sobre pedras de calçada
e no levantar das aves soltas dos bandos em sobressalto…

o sino toca
as cinco horas, na hora (in)certa do campanário da igreja.
branca a igreja
e as horas, outras, de palidez esquálida.

agitam-se as mãos e os olhos turvam
em conspiração d’afectos
retorcem-se em falanges e nódulos
retraem-se em fúrias
em gestos parcos -
na filologia d’acenos glóticos
agitam-se
tal bandeiras
de fímbrias rotas
e líricas
e harpas.

dedilham-se
sevilhanas em palco de saltos altos.

coreográficas
bambaleiam as ancas nos fundilhos de calças, em napas de cadeiras.

…angústia insana
de quem não sabe de si senão o espanto
de saber espantalho de seara em campo a descoberto
varrido por refúgios de ventos.

searas outras
e vindimas provectas em que as uvas e as papoilas
burilavam esperanças em ramos de violetas
e se urdiam madrigais
e fados
nas bocas sequiosas das cantadeiras…

e, o Inverno, de mansinho volta, em lágrimas de pássaros em bandos
e vozes que se ecoam torácicas, em peitos, em (an)seios
em preitos,
sublevadas em meneio,
cansadas de mudas, cansadas de tão roucas…


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Autor
Mel de Carvalho
 
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Enviado por Tópico
Tânia Mara Camargo
Publicado: 18/11/2008 21:12  Atualizado: 18/11/2008 21:12
Colaborador
Usuário desde: 11/09/2007
Localidade:
Mensagens: 4246
 Re: coreografia de gestos
Mel, perdoa-me se não a interpretarei corretamente,
mas para mim, vi uma cena dentro de uma igreja, onde
as cantadeiras repetiam gestos, num típico dia de inverno. Beijos! Tua escrita muito nos ensina.