Embora pouco convidativo, espreitar pela
janela aberta, de meu quarto, devido ao frio,
não há nada que me impeça de fazê-lo, ante
a estrema beleza, que meus olhos, parecem
não se acostumar, perscrutando a natureza.
No rosto uma brisa fresca, faz-me mexer,
de cá para lá, tentando manter a fria face
quente, e, assim, poder finalmente, urdir
com meus olhos, a paisagem, que se
debruça, sobre meu ser, exigindo minha
presença, ainda a madrugada, traz consigo
resquícios, de mais uma noite passada.
Ressequidos jardins, cheios de róscido e de
flores caídas pelo chão, anseiam um pouco
de sol, que já se vislumbra, num vermelho
forte, sobressaindo da linha do horizonte,
que descansa, noite dentro, detrás do rio.
E quando, finalmente, o sol explana e doura,
tomando força, por entre o azul do céu e o
verde do rio, algumas plantas mais resistentes,
levantam-se de sua letargia e colorem os
pequenos cantos, dos campos cultivados, na
ida primavera, deixando-nos um pouco de sua
graça, onde se lhe juntam louva-a-deus e as
joaninhas, caçando em sua subtil leveza.
E logo penso em ti, em como poderias estar aqui,
vendo o que eu vejo, em perfeita sintonia, com
tudo o que me rodeia. E pinto quadros, que mais
tarde te dou a mostrar, pois só assim, teu nome,
numa mímica de lábios, em silêncio, por mim
será soletrado, rosa, de todas as rosas, meu sol.
Olhando, seguidamente, as águas do rio, mais
em baixo, viro meu rosto, por cima de meu ombro,
e tento, inutilmente, ver um pouco, de um Oceano,
que, impavidamente, tudo separa, o que para nós
tem de mais bonito. E, perguntando, à vil distância,
que faz, quem longe está e ama, respondeu-me:
apaixonado, amigo, repara, que não há Oceano,
que se interponha entre um amor, só o dito amor.
Jorge Humberto
14/11/08