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O rio

 
Andando pela vida com passo de vadio, vai um rio entre margens largas, gastas, altas e baixas. Vai plácido com vontade de ser rápido e lento, de andar e de correr num “sempre será assim”.
Andando, descendo de altivas montanhas ou só colinas... vai, depois de nascer, vivo sem querer morrer, torto e direito, cheio ou nem tanto até abrir o sabor do seu corpo em tempêro de bom sal.
Andando, escorregando sem descanso, descansando ao escorregar pelas artérias sulcadas do solo feitas leito fundo ou raso, segue selvagem, enquanto existe.
Andando, cristalino, dá os flancos ao mundo. O mundo aceita e não agradece.
Andando, poderoso, é fraco e acaba por se render às paredes sujas que o espremem sem complacência.

Valdevinoxis


A boa convivência não é uma questão de tolerância.


 
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Valdevinoxis
 
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Enviado por Tópico
Mel de Carvalho
Publicado: 22/04/2007 09:40  Atualizado: 22/04/2007 09:40
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Usuário desde: 03/03/2007
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Mensagens: 1562
 Re: O rio
Bom dia Val. Ao ler este texto, lembrei um poemita meu. Andei à pesca dele ... aqui to deixo "Rio aberto" ...
O rio que se escorre na terra onde nasci e que vem da Lezíria que me viu menina ...

Bjs Val, valeu!!! Sempre tenho de te publicar na Orpheu ... Gostei do texto, sim senhor!!!

***

Rio aberto
"Entre a altiva, desdenhosa,
sobranceira serra, e a Lezíria largada
de si mesma, em planuras aumentadas –
na amplitude da planície mansa,
a ondular-se em imortais, tisnadas searas -,
acontece um rio verde criança.

Um rio permanentemente a escorrer-se.
Fragatas deslizantes de metáforas,
ondulantes rimas de um poema.

Escorre-se verde.
Escorre-se serôdio de tão novo,
novo de tão idoso …
Ora magoado, caudaloso, cauteloso, chorado,
ora sequioso, ávido de ser livre, ser fandango
ser fado, ser boémio, ser vadio…

Escorre-se em gota, em fio, num fio ancorado
lá a Norte, no Monte Gordo onde reside,
paradoxalmente o Senhor da Boa Morte.
Num fio de seda teia, estribado igualmente
na Lezíria, a Sul, no ancoradouro
da Capela da Senhora D'Alcamé …

Escorre-se pendulado a azul, no sonho de ser cantado.
Entre o agnóstico e o crente,
entre o Nascente e o Poente,
entre a noite tão escura e o dia luzente
entre a morte e a vida …
Na senda e na procura, de sentido, de uma rota perdida.

Adormece fonte a drenar,
acorda rio …e logo largo mar…
Escorre-se rápido, e logo lento
escorre-se nas margens de ser de si
e em si, o jejum e o alimento.

Entre a lezíria e o monte
vive o rio cansado de gotejar,
de ser tal qual, fonte!"
Jan.2006 (Mel)

***
PS.: Vou publicar o poemita aqui no Luso, já agora
, que me deu uma trabalheira a encontrar ...

Enviado por Tópico
goretidias
Publicado: 22/04/2007 10:44  Atualizado: 22/04/2007 10:44
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Mensagens: 1237
 Re: O rio
Uma linda prosa poética! Adoro a tua escrita! Um abraço