Foi assim...
Quando ao mirar teus olhos mansos,
pousaste como folha soprada pelo vento
o teu olhar no meu.
Como um véu teu abraço me envolveu,
e larguei meus cabelos na cama de seus dedos
eternizando esse momento em meu eu
num instantâneo de sensações fragmentadas.
Foi assim...
quando enamorados, estatuamos o tempo
ficando parados e mornos
movendo só o mundo meu e o seu
em eternas e etéreas conversas
curtindo e temendo o tempo
sem ponteiro a nos circundar
perdidos na imensidão do nós
onde me encontrei em ti
e tu te encontraste em mim.
Foi assim...
quando recostei todo o meu corpo
no teu caminhar, segura de tudo
seguindo, sorvendo um ao outro
numa eternidade transcendental
até o outro dia,
e o outro dia,
e o dia seguinte.
Foi assim...
quando na urgência da ânsia de apossar
sentida no mergulho de seus lábios
respiraste em mim
e eu inspirei de ti, toda a vontade
como um rio perene
que se avulta com as chuvas,
dando vida ao que parecia morto.
Foi assim...
numa energia sinestésica
seguindo firme, mas sem tocar o chão
e norteados pelo amparo amoroso,
o deslumbramento do corpo
nos levou ao choque absoluto,
numa felicidade una em dois
em voluptuosas dores de desejos... fantasias
nadando no suor que escorria.
Foi assim...
quando a redoma da alma, chamada corpo
cedeu a contínua dolência da paixão,
e desvendamos nosso cosmos invisível
revelando a parte minha
que eu não conhecia
e eu divisei a parte sua
que tu escondias.
Foi assim...
Unindo dois mundos em um só,
que agora chamamos nosso,
que seguimos libertos,
misturados e apertados
descobrindo cores nossas
nas nuvens, nas flores, nas rochas
cantando seu milagre em nós.
e assim nos deparamos com uma doce e estranha dor
de Saudade...
o mais importante não se conta, se constrói com o não dito, com o subentendido, a alusão”. (Piglia)[/color][/color]