Poiso triste este em que estou,
no qual o vento maltrata as folhas
e os Homens os sentimentos...
Uma frescura quente exala
e os pés frios de uma criança tremem
roxos, azuis e cinza ao mesmo tempo.
Não sei se não sei o que sinto,
ou sequer se sinto alguma coisa
neste estranho e conhecido lugar...
O céu parece-me estreito
e nele ninguém voa,
para ele ninguém sorri.
A loucura não mora aqui,
este é o único lugar que não mora,
esta é a única loucura que a loucura não explora.
Aqui tudo sai, nada entra,
não há uma direcção nem um caminho;
apenas solidão, somente solidão.
Não tem nada de racional,
são só pensamentos que causam dor;
uma dor que não doi, mas uma dor que fica,
é uma dor que não se explica...
Ai de quem me quiser neste deserto!
Ai de quem me veja assim!
Poiso triste este em que me encontro,
onde a chuva não cai, o sol não brilha,
no qual tudo se esqueceu de existir...
No fundo , não é estar triste
o que me incomoda,
mas o que me faz ficar triste.
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.