Amanhece detrás do rio. Meus olhos
rasgados pela luz matinal,
procuram ir um pouco mais além,
dentro do horizonte, buscando as cores
múltiplas, que vão urdindo meu corpo,
em pequenas nuances, deixando
as sombras fúnebres para trás.
Por fim, irradiando luzes e cores, um
sorriso invade por completo o meu rosto,
e, subindo as calças, numa ânsia de
outrora, caminho seguro, para dentro das
águas, abordando as margens do rio, com
uma vontade louca, de me unir à sua
essência líquida, mãe de tudo que existe.
Passam alguns barcos de pesca, e, num
aceno recíproco, cumprimentamo-nos, uns
aos outros, embora consiga vislumbrar, em
seus rostos, queimados pelo tempo, um
certo espanto, pela cena insólita, agora que
me despi por completo e nado, a bom grado,
para cá e para lá, encorajando as ondinhas.
Pena que as águas já não estejam tão
límpidas, como noutros tempos, embora
também não tão poluídas, como se possa julgar.
É o meu rio Tejo, partida para o Mundo,
e, eu, como seu filho, presto-lhe tributo, mais
do que merecido, minha vista madrugadora,
que sempre me recorda, glórias duradouras.
Jorge Humberto
06/11/08