Dizem os ensinamentos que se perdem nos tempos que não somos um somente, mas legião de eus. Tais "entidades" possuem vontade própria e humores peculiares. Algo que Freud traduziu como as forças do inconsciente, uma camada à qual não temos acesso, a matriz dinâmica geradora de todos os estímulos que nos fazem pensar que somos isso ou aquilo, que fizemos tal coisa por tais e tais motivos, quando na verdade somos marionetes comandadas por forças mais que ocultas.
Estou certa de que sou um azarão nessa mixórdia existencial pois tenho uma quantidade infinita de eus babacas, bonzinhos, patetas até, inofensivos a ponto de viver com medo de tudo, de sorrir até demais para não desagradar ao mais mísero que cruzar meu caminho, uns eus do tipo que pede desculpas até por estar respirando alto, dos que hesitam com a mão indo e vindo muitas vezes ao bater a certas portas, dos que tremem e perdem a voz diante das melhores oportunidades e pra eu (quem é esse agora?) não ter nenhuma dúvida, tenho visto passar diante do nariz uma infinidade de boas oportunidades que naturalmente se apresentaram em vão. Se existe a tal dívida cármica, devo estar devendo alto por ter abusado de formas que nem quero imaginar, do direito de usufruir em outros momentos neste planeta. E pra fechar com fecho dourado, existe um euzinho desgraçado e inconveniente que só aparece para estragar a minha alegria, tendo os outros adormecido momentaneamente. Então este tipo se instala desabusadamente no topo das idéias e tem uma mira tão certeira e uma munição tão letal que se encarrega de destruir num só golpe toda uma lenta e trabalhosa construção que eu tenha feito da minha imagem. Ele gosta de navegar em ondas do chamado ato falho e põe inadvertidamene palavras na minha boca que não queria dizer, faz a minha mão escrever coisas de forma incontrolável. Mas também pode apresentar um caráter extremamente belicoso e não mede as palavras quando se sente maltratado. E ele já está se fazendo presente pois me fez apagar uma frase onde eu dizia que queria destrui-lo como vírus de laboratório. Eu dizia? Era o tal eu castrador que quer deixar a nós todos como robôs domesticados e aptos a viver em uma sociedade de ruminantes dóceis a pior canga.
Mas sabem, sinto que essa momentanea irritação com o texto se deve ao fato de que o tal eu está querendo se instalar e dizer que a pessoa que aqui se manifesta está se preocupando exageradamente com a opinião alheia, ele está lembrando que se danem aqueles que nunca pecaram, que podem gastar seu estoque de pedras até cansar. ELe está assoprando a meus ouvidos que certo e errado são partes de uma só coisa e que pensando estar agarrados ao pólo direito, estamos, na verdade, dando sustentação ao esquerdo nas entrelinhas.