Quando um leve raiar de sol aflora
nas flores, fustigadas pelas últimas
chuvas, reparo que, uma a uma, se
vão desfolhando, cobrindo o chão
de lágrimas, pisadas pelas crianças,
em suas brincadeiras inocentes.
Mais ao longe um solfejo distraído,
num canto qualquer, urde músicas,
que vão ecoando por toda a cidade,
e como o vento sobem às montanhas,
impregnadas de neve e árvores nuas,
lembrando que o Verão é um resquício.
Desaparecendo os jardins, despidos
de sua beleza natural, para dar lugar
à giesta Outonal e outros arbustos
mais agressivos, cumpre-se o desígnio
da época decorrente, entre riachos
gelados, onde imperam as rochas puras.
Ainda atapetadas de vermelhos e de
amarelos, percorrendo as ruas desnudas,
de pessoas, animais, palavras e ensejos,
pode-se contemplar as espaçadas vias
coloridas, observando velhos pintores de
circunstância, com quadros pelos joelhos.
Passeiam-se alguns casais, apetrechados
de todo o tipo de roupa quente, mãos
dadas, parando para observar as montras,
e quem sabe assim esquecer o relutante frio,
onde tudo parece caminhar mais devagar,
como num sono persistente e entorpecido.
Mas há vida, sim, como em todas as épocas.
Depressa as crianças arranjam trenós ou
algo similar, e, é vê-las, correr neve abaixo,
ou ainda reparar nos esquilos, descobrindo
buracos, onde guardar suas provisões, de
avelãs, que o tempo, não é para descuidos.
Jorge Humberto
02 /11 /08