O que lembra a palavra ciência? Algo ininteligível, encerrado num laboratório ou na massa cinzenta de alguém miudinho, entre tubos de ensaio, ou às voltas com máquinas infernais. Um coca-bichinhos à procura da infinidade ou da imensidão. Ser-se cientista é afinal, profissão de cérebros, quase génios, ou pelo contrário, acessível a todos e qualquer um? Independentemente disso, ciência é algo sério. Requer concentração e trabalho sistemático. Muito trabalho sistemático. Divulgando resultados em troca de pouco mais que prestígio, dentro de comunidades científicas praticamente desconhecidas do grande público. Porquê então, fazer investigação? Porque há o desafio de inovar, explorar o que ainda não foi explorado, estar onde ninguém esteve, enfim, quebrar sucessivas barreiras pessoais, até chegar à adrenalina de estar à frente numa dada área. Avançar passo a passo, conhecer profundamente a maior minudência, ou o mais ínfimo pormenor universal. Fundamentar fenómenos, alertar para problemas, apoiar e divulgar soluções que implicam o dia-a-dia. Contribuir de forma parcial ou integrada para a superação dos limites que nos estão impostos a vários níveis: doenças, fontes de energia, comunicações, agricultura... Em todos os domínios associados à actividade humana, temos uma multiplicidade de trabalhadores a pensar o futuro.
Será comum a todos, a curiosidade de compreender o que nos rodeia e de contribuir para os próximos gestos das nossas vidas? É certo que muitas pessoas têm em casa um micro-ondas, que utiliza perfeitamente, desconhecendo o comprimento de onda em que funcionam. Todos sabemos que os objectos caem ao chão, mas teremos a percepção do porquê? É importante perceber o DNA, se os nossos antepassados o carregaram desde sempre desconhecendo-o, tendo a espécie sobrevivido perfeitamente? Parece que sim, pois podemos transpor para o trabalho, lazer ou descanso muitos desses ensinamentos, ganhando em riqueza e tolerância, e ajudando também a divulgá-los, trocando pontos de vista. Como se diz habitualmente, o saber não ocupa lugar, além de que nunca se sabe quando um conhecimento será proveitoso. Mas nós, os comuns trabalhadores teremos tempo e paciência para “estudar”, nem que seja superficialmente, os principais fundamentos científicos? Existirá outra abordagem a um tema tão vasto e em relação ao qual não dispomos de todo o tempo para dedicar? Como podemos dar o primeiro passo em direcção à descoberta e à interpretação dos fenómenos do dia-a-dia? Como relativizar essa aprendizagem, retirando-lhe uma carga negativa, como a um átomo, restando um ião positivo, a parte divertida e lúdica desse mundo?
As respostas a todas estas perguntas estão bem acessíveis no Visionárium, em Santa Maria da Feira, bem perto do Porto. Brincar à ciência, sem compromisso, sem necessidade de uma base prévia. Ouvir um caracol comer, experimentar num laboratório a sério. Puxar, empurrar, sentir, ver, ouvir e cheirar o mundo, ao ritmo do apetite, investindo no que desperta maior curiosidade, a sós ou em família. Talvez uma boa desculpa seja mesmo essa, uma criança. Um filho, sobrinho, vizinho ou irmão podem ser a razão para decidir uma visita. Muitos dos conteúdos e actividades estão orientados às crianças, sendo uma óptima oportunidade de brincar à ciência, nós e elas em conjunto, descobrindo-a e descobrindo-nos. Dentro das possibilidades de cada um, de tempo e economias. Como se pode verificar facilmente na página do Visionárium, na internet, são muitas as possibilidades de actividades para escolas, grupos ou indivíduos. Visitar simplesmente a exposição, um tema de cada vez, pois os temas são vastos, ou tudo de uma assentada. Realizar actividades no Laboratorium, ou não, a escolha é sua, podendo programar cada visita à sua medida. Vai ver que a ciência está mais acessível e divertida do que nunca.
Boa semana!
Garrido Carvalho
Setembro ‘08
Foto: cortesia Visionárium