Chove lá fora, o que faz, com que
os ruídos, se tornem ainda
mais nítidos, se lhes prestamos
a atenção devida.
Tudo parece maior, as fábricas
tornam-se gigantescas,
dentro de sua obscuridade, e,
apenas os gatos,
deixando suas sombras, nos muros,
trazem alguma realidade, à noite desfigurada,
pela chuva insistente.
Aqui e ali, alguns morcegos,
enfrentando a intempérie, em estranho
bailado, enfeitiçados, pela luz dos candeeiros,
vão-se alimentando.
Estranhas máquinas, já sem serventia,
tornam tudo mais fantasmagórico,
enquanto algumas gruas ferem o céu,
de ferro enferrujado e mal cuidado.
Árvores fustigadas, pela chuva e
pelo vento frio, dobram-se pelo meio,
num estranho fragor, de madeira
vergando-se, às forças poderosas.
Escondida encontra-se a lua, e apenas
o vento perpassa, por entre as fímbrias,
das nuvens cinzentas e carregadas
de água, caindo, quase em desespero,
por sobre o desconfigurado rio, subindo
margens, para além do que lhe é normal.
No meio desta confusão, de água e
de frio, consigo vislumbrar conjuntos
de pássaros, aconchegados uns aos outros,
como se se tratasse, de um só e único
animal, no seu refúgio temporário.
Entanto a chuva não pára, ante seu desígnio,
trazendo o frio consigo, recolhendo as pessoas,
às suas casas, buscando o calor tão desejado.
Fecho finalmente a janela e escrevo,
tentando manter-me fiel, ao por mim observado.
Jorge Humberto
31/10/08