Amortalhou o silêncio
na boca de tempo lesto e no seu inverso: lento, gasto.
Amortalhou o silêncio na ausência d’afago.
Silenciou a voz quente da boca
e o corpo gritou mais alto, na atávica loucura
de se abismar do planalto. A um passo ...
Amortalhou o silêncio no silenciamento gentio
de um pássaro engaiolado. De um dançador de fandango
que se vê em combate estripado ...
Ou até, de um lutador de esgrima, que se esgrima
do seu próprio pecado ... Desconhecido.
Ai, o silencio silenciado,
rugiu na voz dos trovões, explodiu-se na manhã herege
no trinado intempestivo de milhões de rouxinóis.
Era tal um batalhão de destemerários soldados
a reboar em gemidos de florins e de clarinetes...
quando, em destemperamento, em fundas luas de vento
os seus silêncios silenciados se erguiam barricados
em acatamentos desmedidos.
Perpassavam então as noites dissimulados de bonanças,
em enfurecidas danças,
em que, na fogueira breve do corpo avançava a doença.
(E a crença na palavra redentora).
O sangue alucinado empapava metáteses em segredo.
Os homens e os gestos eram apenas sombras
a cruzar-se em encruzilhadas hipnóticas. As portas
desengonçavam permanentes em ilhargas perdidas.
Estiavam-se vacilantes entre o agora e o antes ...
Navegantes! Sempre navegantes ...
Na noite em que a folha branca murmurava,
amortalhou o silêncio na mortalha da palavra!
Amortalhou-se na palavra!!!
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