Ó bruto animal,
que dentro de mim te escondes,
alienígena de antanho,
nas minhas entranhas
entranhado, no meu tronco;
animal mil vezes animal,
te amaldiçoo, te renego,
vil besta: cala o teu ronco!
Oh! avantesma sem tamanho,
sei do teu canto escuro, não o estranho,
em que tantos anos te aprisionei,
em que não te faltei, com o alimento
- das frustrações fiz o teu sustento...
Acorrentei-te nas profundezas
receoso das tuas vilezas,
temeroso de tuas fugas;
de sangue pisado deixas rasto
almas magoadas são teu pasto,
dos seus corações a seiva sugas...
Ó mais feroz dos animais,
quando de tua toca sais,
treme o Mundo,
explode o medo.
Se tua carne, em eterna ferida, não apodrece,
que a tua revolta, que o teu grito que estarrece,
que o fogo e a morte que semeias
para bem longe os arremesses,
foge de mim, desaparece!
José Jorge Frade