Como se o sol lhe dissesse: vem daí para a minha beira!
Como se pelo buraco do peito se avistasse-lhe o pântano espiritual
Mete-se a mão e zás!, recollhemos o amor em bagos
Depois espanta-se com a cara de quem vê o preço do branco a subir
E fica-se a saber porque dói o silêncio
ou o ferro quente não engoma o pêlo do lobo
Como se a tempestade fizesse arrasar a colheita de sangue
Como se o jejum dobrasse a forquilha à felicidade
O amor bem que podia dar meninas pelo quintal
Regadas com suor de flores
Prata líquida percorrendo o pescoço – a maravilha da pétala
O homem sentou-se.
Triste e absorto. Mimando uma lâmina usada.
Nunca beijara a face aberta de uma mulher
Tem por uso plantar cactos no quintal
E dos espinhos santifica-se
Com o dedo na terra alimenta a oração
Os olhos como faróis. Ou vice-versa
Escorre o veneno pela luz vinda do solo
Jaz a música no cântaro abandonado
O fogo estala ante a carne borealesca
A solidão escapa-se do gavetão-memória
Tecidos podres
Podres tecidos
Há vestígios de alma que esperam pendulares
A morte é um veículo veloz Que segue sempre na auto-estrada
No poço todos os murmúrios são cantos de galinha
Ó que zumbie tão estridente é o mar!
O Homem tem as plantas como seu tesão
A gravidade está prestes a ser um feno comido pelos bois
E a certeza é que debaixo da pele: um fogo-posto
Como se a matéria fogo nos viesse dar novo baptismo
Como se o relojoeiro argolasse o tempo à cadela que dorme no prédio
Investir na vida não é preciso saber
para que lado
é que se há-de morrer
Ao contrário da morte a vida é um equívoco raro: o momento em que o carneiro se despe catedraticamente
Perguntem a este homem
Gélido
Putrefacto
Electro-iluminado
Que ressuscita a cada minuto num coágulo de sangue fresco