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\" Discurso épocalitico \"

 
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(I)
Que mais querem vós senhores
- Todos doutores - na televisão ?

Uns pegando no \"presente\" ao colo
Com todo o amor.
Outros, ao pontapé e ao soco,
Fingindo não ter onde se lhe pôr.
Outros cuspindo fogo,
Semeando os ventos do terror !...

Mas ao nosso \"presente\"
\"O tal\" do dia a dia,
Só lhe descontam ilusão !
Sempre a mesma fantasia
Fundamentada, estrategicamente
Na demagogia, que são.
- Profissão estupefaciente !

Querem-nos o voto
Guerreiam-se, esfolam-se ...
Por um voto.
- Eu também voto : - Não !

Deve haver um direito : - Ser independente !
Porque não,
Se tudo se repete ?
Repete-se a guerra fria
Que só já pena, nos mete !

Porque às tantas, o programa ...
- Repete-se o drama :
« Pedimos desculpa por esta interrupção,
- São Bento entrou em erupção -
O programa segue dentro de \"parlamentos\" »

- Qu’este já deu, a quem tinha a dar.
Diz o \"Zé cansado dos engordar\".


(II)

Bom, agora
O melhor é ir-me embora,
‘Tá na hora do telejornal ...
(A mesma miséria de sempre
mundo fora.
A sofrer, cada vez mais gente !)

E a seguir,
O melhor é ir curtir.
Vem um tal \"tempo (mal dito) de antena\"
Tempo de ter pena :
- Falam todos tão igual !

(III)

Vem branquinha de pó de talco
E com cheirinho a desinfecção,
A nova oposição,
- A antiga coligação governamental.-
Dizer lá do palco :
- Alto. Alto.
Está tudo mal !

- Melhor quem não faria ? -
É preciso mudar.
Nesta rebaldaria,
O país não pode continuar;
E só em nós podem confiar
Quando em tal dia, forem votar.

... O povo tem que compreender
que só ele é o culpado.
votou no poder errado !
agora, só há uma saída a escolher,
quando outros tiverem que eleger,
botem uma cruz, no nosso quadrado.

- E eu voto bem : - boto quadriculado !


(IV)

Chega depois o novo senhor vulcão
E diz, com a sua voz de trovão :
- Rebelião !
Fora com esta cambada
De incompetentes.
A minha rapaziada,
Está pronta a governar
Com unhas e dentes !

É preciso renovar,
Que entrem os suplentes ...
( Que já não andam nada a gostar
da equipa titular )

- Quem gosta de estar
No banco a ver jogar
Concorrentes incompetentes ?


(V)

Eis por fim o rei pequeno
Tão moreno, o tirano.
Olhem como ele fala,
Parece que está a tocar piano !

- Vou cumprir-vos as promessas
Que vos faço na campanha;
Haveremos de ser como a Alemanha !
Mas não tenheis pressa
E sobretudo não me façam sair
Se não,
Não passamos de Portugal.

Portugueses, eu não os quero ver mal
Por isso por favor, deixem-me prosseguir.
Porque o povo é que foi o culpado
Votou tarde demais em nós. A solução.
Os outros deixaram isto tudo acabado,
Tinham escondido o país, no alçapão !

Sejamos reais,
É promissor o futuro.
O caminho será longo e duro,
Mas comigo iremos conseguir,
Seremos capazes de triunfar.
Mas como ainda vai demorar
Não me façam já cair !

E já agora aproveito,
Já que estou a falar verdade,
Para dizer que o voto no \"mais que perfeito\"
É com o vosso \"particípio\" no nosso quadrado.

E eu voto bem : - voto \"ar condicionado\"


(VI)

E enfim tudo se consuma,
O governo empossado,
Glorificado, tudo promete.
Tudo semeia e estruma.
Na ordem diz que mete !...

Mas não mete. Não arruma.
Melhoras ? - A deles, já é uma -

E o tempo vai passando,
O poder vai-se baralhando,
( Partindo e dando )
E como sempre perdendo.
Os buracos (todos ?) sabendo,
A oposição fervendo, agitando,
Os \"medias\" em máximos, encandeando.
E a opinião pública ?
- De quadrada passa a cúbica !


(VII)

Então,
Após nova interrupção,
Lá vêm eles de novo
Tão bonitinhos, à televisão.
Dizer a verdade ao povo.
- Chorar de novo ! -

Pelos votos cruzados
Deste povo feito de activos,
Passivos, cansados e deserdados.
Herdeiros, tripeiros e atrevidos
E outros tantos, bem sucedidos ...
- Votos repartidos.

Por uns, de fresco pintados.
Outros, reconstruídos.
Outros, de novo criados.
Outros, arrependidos.
Outros, arruinados.
E outros de inveja roídos ...
Mas todos, partidos !
Se chega a nova conclusão :

-Então,
Lá vem à televisão,
O novo senhor decisão !
Em directo da \"Cova da Piedade\"
Dizer, cheio de boa vontade :

- Tudo mudou,
Nada vai ficar como estava,
Este governo vai trabalhar,
Como há muito nenhum trabalhava.
... Blá , blá , blá ... Blá , blá , blá ...

- Estou ? - Estava !

P’r’aqui a pensar,
Que deve ser duro ao povo,
De vos acreditar
De novo !

Façam-se lá uma imagem
Digna de quem se quer respeitar !
Que o povo, até quer votar
Em quem os saiba representar,
Não em \"nossos senhores da boa viagem\"
Que se engordam à passagem.

E agora,
Com o devido respeito
Deixem-me votar, - Exercer o direito -
Vou votar bem. Para Belém :
- Voto na bochecha esquerda do meu peito !

Este é meu discurso \"Épocalítico\"
\"Ficou escrítico\"

Urbano da Vila /83/85

 
Autor
Urbano-da-Vila
 
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