Acordo varrido no tempo ou será que não me deito apenas e, sem falar, visto uns óculos escuros como o frio do sentimento. Saio pelas ruas vazias de um lugar que mais parece um purgatório doente, no cume de um céu ausente pelas trapaças das horas... Os passos latem como gente, e no meio do silêncio, o que sobra não se sente nem a dor tem nome de mulher, nem a voz se engana e mente, consciente.
O horizonte sorve o mel ao pensamento quando a sombra dorme ao relento, nesses umbrais sem alma, ao vento até que a maré traga de novo o lume aos olhos gastos de esperar a vida nas encruzilhadas do tempo errado, que ninguém conheceu já virgem de alegria. Ardentemente, os anos gretam o corpo com tridentes de sofreguidão, friamente... as emoções escondem-se na utopia enquanto as razões devoram o instinto na voz semeada de tufões infelizes que dentro da carne o meu sonho encerra.
Perco-me sem dar muita importância ao limiar do momento vazio pelos confins dos dias, vou pelos chãos mais diferentes, sem timoneiro nem navio que flutue, sem rosa-dos-ventos nem certezas, sem benção nem santo que me valha e tudo num só ápice da vida, num pestanejar, em tão poucas ventanias... sem quem, nem mim!