Um pássaro cruza o céu, planando leve, sobre o beijo, sobre o corpo, paisagem suave de colinas douradas. Lugar perdido onde me acho, momento em que te despes num mar imenso de prazer. O dia não passa de um raio de luz que revela a escuridão, a noite, um instante em que seguro o tempo nas pontas de dedos imaginados sobre tua pele.
Sou leve, como este beijo, como este anjo triste que em ti habita, lugar comum onde nos encontramos, amor em que nos preenchemos, palavras que em nossas bocas caladas se silenciam, letras brancas que escutam o lamento, o gemido e o prazer que nos damos. Nesta noite em que os braços se alongam para lá da eternidade, estou sozinho, dentro do meu corpo, tua alma visita-me como lembrança distante de tempos imemoráveis.
Sou água, que teu corpo absorve, preencho-me de ti, da tua essência terna e pura, alimento-me da tua energia que me aquece o corpo, me ilumina a mente e me dá de beber à alma. Entrego-me e em teu âmago deixo-me ficar, para sempre, em ti repousar, como semente que espera o Estio passar, para em teu mar me afogar, crescer e abraçar-te.