Vi montes e escarpas; corri feliz
sem alcançar cansaço, por mínimo
que fosse, subindo e descendo
árvores, para espreitar os ninhos
mais recentes.
Minha cadelinha, que sempre me
acompanhou, até a terem raptado,
ladrava lá em baixo, desejosa de
mais aventura, embrenhando-se
comigo, entre arbustos e caniçais.
Pegando na minha faca, uma a uma,
separava as canas mais verdes, e,
unindo-as, com cordame, uma cabana
tomava forma, e ali passávamos os dias,
dormindo sestas, inventando jogos.
Minha predilecção era correr sem parar,
trazendo atrás de mim, a cadelinha, de
orelhas arrebitadas e língua de fora.
Então resolvia parar e levá-la para a cabana,
onde ela podia beber água fresquinha.
Que felicidade em seus olhinhos; deitava
e dormia. E eu, sem ruído, voltava a sair,
procurando algo, que julgava ter visto,
sendo merecedora de minha atenção, mais
atenta, e, não descansava, até me certificar.
Já a tarde descendo, latidos escutava, atrás
de mim: minha cadelinha vinha ao meu
encontro, depois de uma bela sesta. E a festa
era enorme, atirando-me ao chão, lambendo
minha face suada, e, agora, um pouco cansada.
Ao meu sinal, seguíamos para o nosso poiso
sagrado, deixando tudo arrumado, ajeitando
as camas, e, algumas canas soltas: tudo tinha
de ficar pronto, para nos receber, no dia
seguinte. Só depois regressávamos a casa.
Ah, como fui feliz, nesses tempos, ainda sem
prédios e raras fábricas, onde a descoberta,
era a novidade, do dia-a-dia, e, a natureza, o
barco que conduzia, por esses mundos fora,
a minha ânsia de mais e mais, até à exaustão.
Jorge Humberto
21/10/08