Acredito que ser diferente não é ser menos. É, por isso, necessário promover a inclusão, das mais variadas formas, para que o termo “deficiência” não seja associado a ideias e conceitos negativos.
Comummente, a deficiência — seja ela física ou mental — está conectada a incapacidade. Muitas pessoas julgam que o cidadão deficiente não possui competências intelectuais e motoras, que lhes permitam realizar tarefas e terem um papel activo na sociedade. Estes, muitas vezes, apenas necessitam de uma oportunidade para demonstrarem as suas capacidades nas diversas áreas profissionais e académicas.
Assim, ultrapassando todos os dias as suas próprias limitações, são muitos os deficientes a darem o seu contributo para que esta nossa sociedade — cada vez mais global e apressada — permaneça sensível e humanizada, consciente da sua fragilidade. Pois, todos nós — mercê da idade, de doença ou de um qualquer acidente — somos susceptíveis de ficar física ou psicologicamente limitados.
Para contrariar o estigma que a deficiência ainda continua a alimentar, existem, por este mundo afora, milhares de seres humanos maravilhosos que, — apesar das suas diferenças — empurrados pela coragem e pela perseverança fazem da tolerância e da igualdade a sua bandeira de luta. Quer seja através da chegada à meta em primeiro lugar, de uma canção ou da música, de um livro ou de uma tela pintada, há mensagens de franca universalidade que, sem sabermos bem como, nos tocam e nos despertam.
Creio indubitavelmente que dentre muitos outros exemplos, o desporto e a arte podem ser veículos de integração, com um papel social de vital importância no que concerne às pessoas com deficiência.
Como experiência pessoal, e enquanto deficiente motora, é através da literatura que eu tento promover os valores da inclusão e da diferença. Há três anos que, em parceria com uma instituição de jovens deficientes mentais, desenvolvo projectos de âmbito artístico e lúdico-pedagógico. Aliamos a literatura às artes de palco e à música com o intuito de passar uma valiosa mensagem, sobretudo, aos mais jovens, já que nos deslocamos essencialmente a escolas.
Considero fundamental a experiência da diferença entre crianças e jovens, para que cresçam a saber conviver de forma mais harmoniosa e tolerante, não só em relação aos deficientes, mas também no que se refere à origem e religião de cada qual.
Cada sorriso de compreensão que conquistamos é como uma semente que lançamos nas margens do futuro. Homens e mulheres do amanhã falarão aos seus filhos que existem pessoas diferentes. Combater-se-á a exclusão. As ruas das cidades e as entradas dos prédios e das instituições públicas terão acessos para os deficientes, como algo natural e ninguém os olhará com estranheza quando, com todas as limitações que possam ter, desempenharem as suas funções como qualquer outro cidadão.
Sei que não poderei mudar o mundo, mas posso tentar fazer a diferença entre a diferença… Com a ajuda de todos será ainda mais fácil fazer do mundo um lugar melhor…
Artigo publicado no jornal "O Portomosense" em 04/09/2008.