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SURREALIDADE

 
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SURREALIDADE




É conforme vivêssemos encerrados na penitenciária
de um sonho que edifica-se na seara soturna
da indiferença mais intensamente etérea,
fincando-se firmemente
no solo fértil da sofismática infinitude sincera
qual flui e povoa a mente em sua mais que hospitaleira
elevada atmosfera.


Sim, neste horrendamente onírico labirinto de saída ignorada,
é consoante enxergássemos somente
a apocritamente infinita epiderme do caminho
e nunca avançássemos além da distância
anuída pela fronteira do externo tecido.
Sim, pois se a transpuséssemos, veríamos seu cerne:
sua aparência denotativa...a factual forma das coisas.
Então, aí, repousando serena toda a verdade nela escondida,
Afloraria plena.



É como se tivéssemos cérebros robóticos:
havendo alguém que se deleitasse, quando nos fizesse
de boneco,
a nos programar, de maneira, a só acreditarmos no que é
essencialmente tangível,
e desprezarmos a acuidade emanada da sensibilidade
do raciocínio que enxerga o microcosmo macrotizado
da podridão do sublime,
personificada neste pesadelo não percebido.



Efetivamente os olhos de robô
acham críveis o que vêem e lêem:
o sofrer, a dor, a tortura, o ultraje e o holocausto da candura
viram uma expiação assaz merecida.
Merecida aos devotos do delito.
Que delito?
O delito de viver uma vida abrigada em casas quase abortadas?
O delito de viverem como frutos da cromática botânica escrava?
O delito de viverem sendo afogados por oceanos de chagruras?
O delito de serem marcados com a brasa da ausência em ditadu-
ra?

O delito de terem de se levantar e ver o sol: e assim saberem
que mais um dia chegou pra que eles sofram ao se entregar
ao seu pétreo, atroz e árduo diário de labuta?



Não!
Os olhos robóticos olham o olhar superficial
Os olhos robóticos sentem o sentir superficial
Os olhos robóticos ouvem o ouvir superficial
Os olhos robóticos degustam o degustar superficial
Os olhos robóticos cheiram o cheirar superficial
Os olhos robóticos tocam o tocar superficial.
Mas estes olhos não vêem a amagosfera
Mas estes olhos não vêem que nela se encontra a saída
da surreal penitenciária
Mas estes olhos não vêem que a vida só é vida
fora desta maldita miragem factufórmica
Mas estes olhos decididamente não vêem que a vida só é vida
Quando, ao acordarmos, abrimos a janela
e contemplamos o céu solar ou chuvoso pacientemente á nossa
espera, mesmo que já tenhamos talvez perdido a esperança de
encontrá-lo lá fora. De o vermos bater em nossa cara exausta
de não saber o que é a presença de uma manhã ensolarada.
Porfim, por não sabermos que o horizonte do sol se descerra
para nós muito além da janela. O mesmo horizonte a aguardar
a nossa chegada. O horizonte de esperança que a cada dia
se renova tão-só para a aurora da nossa nova jornada.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA





SOU NATURAL DA CIDADE DO SALVADOR, BAHIA. NASCI EM JUNHO DE 1982.
NA VERDADE, SOU UM MENTECAPTO QUE TROPEGA PELAS
ALAMEDAS DA POESIA.
http://twitter.com/jessebarbosa27
http://www.myspace.com/nirvanapoetico
http://poetadorjesse.zip.net/
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jessébarbosadeolivei
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 19/10/2008 13:10  Atualizado: 19/10/2008 13:10
 Re: SURREALIDADE ...
Poema sobre a surrealidade mas cheio de veracidade!
Abraço.

Enviado por Tópico
Karla Bardanza
Publicado: 19/10/2008 13:17  Atualizado: 19/10/2008 13:17
Colaborador
Usuário desde: 24/06/2007
Localidade:
Mensagens: 3263
 Re: SURREALIDADE ...
Oi Meu Lindo!

Teu poema é tudo!Infelizmente, nossas vistas, cansadas ou robóticas, nos impedem de ir além!Reflexão bacana Jessé!

Domingo de poesia para você!

Beijinho!

Karla Bardanza

Enviado por Tópico
AnaCoelho
Publicado: 19/10/2008 13:20  Atualizado: 19/10/2008 13:20
Membro de honra
Usuário desde: 09/05/2008
Localidade: Carregado-Alenquer
Mensagens: 11255
 Re: SURREALIDADE ...
Surrealismo vestido de grande verdade.

Beijos

Enviado por Tópico
MariaSousa
Publicado: 19/10/2008 15:08  Atualizado: 19/10/2008 15:08
Membro de honra
Usuário desde: 03/03/2007
Localidade: Lisboa
Mensagens: 4047
 Re: SURREALIDADE ...
(Sur)Real, mesmo!

Um poema que não é fácil de ler mas que vale mesmo a pena fazê-lo.

Bjs