Cavaleiro meu, por onde andais?
Por onde passa vosso cortejo de
espinhos e anseios, vossa cortesia
de bardo, esse olhar de romeiro que
escava palavras, e descobre numa
mulher, suas veias, suas recônditas
enseadas?
Cavaleiro meu, vossos braços me
embrulham nesta névoa, a cúmplice
feiticeira dos amantes, um secar de
pálpebras pelo sal da penumbra, um
confim de frase nunca dita ao entardecer
dos prazeres e coisas interditas, esse
crepúsculo de cinzas por ancestrais malditas.
De onde trazeis esssa emoção? Que
cheiros peregrinos e areias desprendem
vosso bargal, a que portos rumaram
os teus medos, que suor exala esse
teu corpo, que segredos? Mantos são
esses vossos de linho moço e sonâmbulos
devaneios...
Donde a numismática de teu rosto,
essa força morena, esse magro
pescoço onde assobia o vento temível
das estepes ou doutros lugares inóspitos.
Porque nem sois, sequer ainda fostes o
dono de minhas noites, Cavaleiro meu,
quando teu outono?
Tuas vestes pela lua, uma nostalgia
de fim de tarde, algo próximo como
um sopro das lonjuras, eu te pressinto
no meu sangue, mercúrio irrelevante,
estio por crestar o pisar das folhas.
Cavaleiro meu, por que não me olhas?
Verás a teus pés um vaso de êxtase,
derramada a água da paixão pelas nossas
horas, esses momentos de cristal já fora
de horas, astro de luz impura, por que
tanto demoras? Há uma véspera de luz no
nosso limbo e a tepidez em teu corpo ancora...
Nunca vos vi, porém pressinto-vos
semeando no meu peito uma sintaxe
que é de dor, e um lamento, e um
frémito de loucura, um arrepio de
dedos, a opacidade da busca, um braço
de crepúsculo na madrugada fresca de
luxúria. E nunca tua voz impura.
Cavaleiro meu, anjo do mal, quando caís
em fio de lâmina de vosso frágil pedestal?
Luz&Sombra